sábado, 28 de maio de 2016

VACINADOS

O coletivo sobe o viaduto conduzindo um maior número de pessoas em pé do que sentadas. Por mais que o ônibus seja do tipo executivo, a Super lotação nesse horário supera as expectativas. Um rapaz sentado ao lado de uma senhora no acento preferencial se levanta e anuncia o assalto. Logo em seguida o seu comparsa também anuncia o terror.
- Olha só, não queremos machucar ninguém, mas se tentarem fazer gracinha, meu amigo logo ali atrás está com o dedo coçando. – Logo o pânico se espalha entre os passageiros. O meliante retira a mochila das costas e inicia o recolhimento. Celulares, tabletes, jóias e dinheiro são recolhidos. Tudo acontece muito rápido. Um cidadão com porte físico invejável se levanta e corajosamente enfrenta os assaltantes:
- Muito bem, vocês dois, entregue já o que pegaram. – Um dos bandidos olha para trás e aponta sua arma.
- Por um acaso você está usando colete à prova de bala seu miserável?
- Veja você mesmo. – Abre sua blusa mostrando o peito nu. As pessoas se apavoram temendo o inicio de um tiroteio dentro do ônibus.
- Então o que faz pensar que eu não irei te matar seu, merda?
- Nada, eu só quero que devolva os objetos que estão dentro da mochila para essas pessoas. – O outro bandido ri e mira na cabeça do sujeito.
- Vai dar ordens no inferno. – Atira na cabeça do homem que permanece de pé. O assaltante fica em estado de choque ou ver a quantidade de sangue que sai e mais ainda em ver o sujeito andando em sua direção.
- Satisfeito seu cachorro. – Cara a cara com seu atirador, o homem o segura com suas mãos gélidas. O outro atira mais uma vez acertando o peito o deixando furioso. – vai gastar toda a munição seu otário. – A briga é ferrenha dentro do coletivo que está a 90 por hora numa via de grande movimento.

O ônibus encosta e os dois rapazes são jogados porta a fora. Machucados gravemente, os dois gemem no acostamento pouco movimentado. Mais adiante o sujeito ainda com o buraco da bala na cabeça desce sendo observado pelos olhares mais espantados possível. Ele anda rumo às casas de luxo com seus olhos amarelos e lábios roxos.

Semanas depois do acontecido, o fato ainda causa terror para quem o presenciou. Duas senhoras foram hospitalizadas e agora fazem tratamento contra a síndrome do pânico. Homens estão sob efeito de remédios e tremem da cabeça aos pés. Meninas choram o tempo todo e crianças estão aterrorizadas. A imprensa decide correr atrás de novas informações e tentar chegar até o tal homem que evitou o assalto.
- Quer dizer que ele foi alvejado com um tiro quase a queima roupa e na cabeça e não morreu? – Pergunta a reporte.
- Sim senhora, essa imagem eu tenho nítida em minha mente, o tiro pegou certeiro e o sangue jorrou e ele permaneceu de pé. – Responde um dos passageiros do ônibus.
- É verdade que o outro bandido também o acertou no peito? – O homem estremece.
- Sim senhora, foi verdade, uma cena chocante, parecia coisa de filme, sabe.

A criança brinca próximo a escada. Por distração a mãe esqueceu de fechar o portão que dar acesso as escadas. Mais alguns passos e a menina de apenas um ano irá rolar vinte degraus abaixo. A mãe na cozinha sente falta da menina e corre até a sala e ao ver sua princesa se aproximando da queda fatal ela corre e na corrida escorrega batendo forte a cabeça. Logo o sangue misturado a um tipo de massa se espalha no chão. A criança chora mais em seguida sua mãe já a conforta colocando-a em seu colo.
- Não chore, a mamãe está aqui. – Sorrir arregalando os olhos amarelos e seus lábios roxos.

A repórter resolve de vez entrar no caso, ela reúne o maior número de provas e decide sozinha investigar. Com base no relato das testemunhas, Cris, como é chamada na redação suspeita de que novos experimentos andam circulando nos laboratórios bancados por políticos e empresários do alto escalão.
- Você acha que o governo deixaria esse tipo de coisa vazar? – questiona o chefe.
- Sim, eles são falhos, tudo é possível, Jorge. – Cris acende mais um cigarro.
- Não está pensando em fumar em minha sala não é? – coça a barba.
- Me desculpe força do hábito. – apaga na sola da sandália. – então, tenho seu aval? – Jorge hesita por um instante.
- Cai dentro.

A balada não tem hora para terminar. Os jovens se aglomeram num espaço estreito e se esbarram o tempo inteiro. A música ajuda aumentar a agitação e também os ânimos. Um garoto aparentando ter menos idade do que a permitida na entrada, dança, se requebra arrancando gritos das meninas. Dois sujeitos não gostam nada do que vêem. Um com uma camiseta regata mostrando seu tórax trabalhado em horas de academia e o outro com pinta de lutador de UFC. O jovem continua a encantar as gatinhas não sobrando nada para os dois grandalhões. Um deles entra no meio da dança empurrando o garoto com suas mãos enormes.
- Sai fora seu pirralho, pague sua comanda e dê o fora daqui.
- Quem é você?
- Eu sou o que sou, moleque, agora cai fora. – o peitudo esfrega os punhos cerrados.
- Vai me bater, então tente. – as gargalhadas são abafadas pela música alta.
- Você quem pediu.
A pancadaria rola solta e é claro que o menino leva a pior. Socos, chutes, e golpes de vários tipos. Em menos de dois minutos o garoto já se encontra caído e morto. A galera desesperada tenta ajuda-lo, mais ele mesmo se levanta tirando onda com os dois brutamontes.
- Essa é à força de vocês. – os homens se olham e se afastam.
- Você está morto garoto, eu lhe apliquei um golpe fatal.
- Que pena, não funcionou.  – limpa o sangue que escorre da boca roxa. Seus olhos amarelos assustam a dupla.
- Vamos sair daqui cara, eu nunca vi isso antes.
Enquanto os gigantes feitos de músculos giram nos calcanhares uma menina o abraça.
- Não acha melhor irmos ao hospital?
- Que nada, vamos continuar dançando.
Um outro garoto salva a filmagem do espancamento em seu telefone celular.
- É disso que eu estou falando.
A primeira coisa que faz ao chegar em casa foi postar na rede social o seu vídeo e o nomeou de “O GAROTO IMORTAL”. Apesar de ser alta madrugada, enquanto foi à cozinha preparar um lanchinho rápido, as visualizações tiveram inicio. Pela manhã o vídeo já havia chegado a um número bastante expressivo na rede. Cris como sempre conectada foi uma das milhares de pessoas que viram o vídeo.
- Agora sim.

Ansiosa, Cris quase não dormiu,antes mesmo das galinhas acordarem ela já estava de pé enfiando seus pertences em sua bolsa tira colo. Ela olha mais uma vez o vídeo na tentativa de identificar onde fica o local onde tudo aconteceu.
- Se meus cálculos estiverem certos, esse lugar fica aqui próximo. – Aciona o botão destravando a porta do carro.

A farmácia ainda não abriu mais em seu interior há pessoas circulando. Homens importantes com seus respectivos ternos e sapatos que mais parecem espelhos. O mais mal humorado deles esbraveja gesticulando com seu dedo indicador no rosto de um sujeito que engole seco.
- Se essa porcaria vazar estamos perdidos. – Pigarreia. – era para ser algo sigiloso e olha o que aconteceu, deu merda.
- Mais senhor, eles chegaram aqui com dinheiro vivo como o senhor mesmo exigiu e também assinaram o termo de sigilo absoluto, o negocio é que ninguém sabe guardar segredo, entende?
O homem de terno gira nos calcanhares e olha para a farmácia.
- Veja bem, eu confiei em você. – Faz uma pausa. – quer continuar sendo o dono dessa espelunca?
- Sim senhor.
- Quer que ela cresça e tenha outras filiais?
- Essa é a minha sina.
- Então daqui pra frente faça seu serviço direito entendeu, direitinho, senão farei eu mesmo uma formula letal e aplicarei em você. – O dono da farmácia assentiu com a cabeça.

Cris chega à boate. Ela está fechada mais o escritório logo a cima se encontra funcionando. Cris é uma mulher de baixa estatura e tem os cabelos cortados bem curtinhos, sempre gostou do estilo “Joãozinho”. Ela aproveitou e os pintou de vermelho vivo. Seu andar é marcante, rebola mais do que anda. Sempre foi uma menina inteligente e encantadora. Não foi a toa que optou pelo jornalismo, Cris adora estar por dentro dos assuntos. Ela toca o interfone e uma voz firme metalizada a atende.
- Bom dia, pois não?
- Sou Cris do jornal “Um minuto” gostaria de falar com o proprietário.
- Entre. – A porta solta um estalido.
Dentro do escritório tudo normal. O dono é mais jovem do que Cris imaginava e atraente também.
- Bom dia senhor?
- Tiago, nada de senhor, sente-se. – Aponta para a cadeira. – em que posso ajuda-la, Cris.
- Houve uma briga aqui ontem não foi? Um espancamento. – Tiago entrelaça os dedos.
- Esse tipo de coisa é bastante freqüente nas casas noturnas, eu lamento muito.
- Tiago, não estou aqui para falar disso. – Retira o celular da bolsa. – e sim disso.
Tiago assiste ao vídeo e fica boquiaberto.
- Incrível. – Cris o olha mais encantada por sua beleza do que outra coisa. – isso aconteceu em minha casa?
- Sim.
- Como tem tanta certeza? – Tiago aperta os olhos o que o deixa mais atraente.
- Já estive aqui antes e reconheci o lugar por esse vídeo. – Tiago com ar de riso a elogia.
- Bastante observadora, Cris.
- Sou mulher, isso talvez ajude.
- Bom, no que posso ajudar?
- Conhece o garoto que foi espancado ou quem fez o vídeo? – Tiago pega o aparelho e hesita. – acho que estamos enfrentando o desconhecido. – continua Cris. - e eu preciso apurar isso, se puder ajudar. – O empresário se levanta e apanha algo na estante.
- Ele é filho de um magnata muito poderoso chamado Meirelles, tem mansões em todo o país e fora dele também.
- Pode me dizer onde encontra-lo? – Tiago volta a sentar-se.
- Sim, pra falar a verdade também quero saber por que esse garoto não morreu depois de ser espancado por dois pitbulls daquele tamanho.
- Ele e outros que não morreram depois de serem assaltados e sofrerem acidentes domésticos, estamos diante do desconhecido, Tiago, e isso pode ser perigoso. Obrigado por cooperar. – Tiago mostra um cartão de visitas entre seus dedos.
- Aqui você irá encontrá-lo, nesse endereço.
- E quanto a esse número de celular escrito a caneta?
- É o meu. – Cora. – gostaria de lhe ver fora do horário de serviço. – Pisca. Cris mantém o mesmo ar profissional, mais por dentro está explodindo de alegria.

Dentro do carro ela grava o número de Tiago em seu celular com um sorriso largo no rosto. A baixinha, além de estar avançando em sua reportagem, ganhou o coração do partidão do pedaço.

Uma família inteira adentra a farmácia a procura do senhor Gustavo. Família de posses. Os funcionários de nada suspeitam. O gerente pelo radio comunica a chegada dos visitantes. Gustavo imediatamente aparece no interior da loja recepcionado os convidados com sua simpatia invejável.
- Chegaram cedo.
- Estávamos ansiosos, por isso resolvemos vir antes do horário combinado. – Explica a mulher.
- Ótimo. – Olha ao redor e chama uma funcionária. – não estou pra ninguém, esses são meus sócios e preciso fechar alguns assuntos com eles entendeu?
- Sim senhor, pode deixar.
- Muito bom.

Eles saem do salão e passam por uma porta onde há um letreiro “Entrada restrita, somente pessoas autorizadas”. Andam por um corredor pouco iluminado. Chegam ao final do corredor e passam por mais uma porta. Para abri-la Gustavo precisou digitar algumas palavras na fechadura eletrônica. Com um silvo a mesma se abre e o frio que sai de lá de dentro é impressionante, fora o cheiro de material de limpeza que incomoda bastante. A família logo atrás de Gustavo acompanha em silencio todo o proceder do empresário alto e magrelo.
- Já estamos quase lá.
- Nossa, algo bastante escondido né? – Pondera o chefe da família.
- Eu diria bastante seguro.

Mais uma porta e mais uma fechadura eletrônica. Mais alguns dígitos e pronto, eles estão dentro de um tipo de laboratório futurístico escondido nos fundos de uma farmácia.
- Vou pegar os papéis. – Diz Gustavo se dirigindo a mesa.
- Senhor Gustavo, quero informá-lo de que só estou fazendo isso por que amo minha família, entendeu? – Gustavo para e sorrir.
- Louvável senhor Antônio, louvável.

Os papéis são assinados e o primeiro a tomar a dose é o chefe da família Souza seguido de sua esposa. As crianças choram não querendo tomar, mas são forçadas por seus pais. Gustavo faz as cobranças. O valor é alto, bastante alto.
- Muito bem, foi bom fazer negócios com vocês. – Se gaba o empresário.

Minutos depois o celular de outro empresário toca.
- Essa linha é segura?
- Sim senhor, acabei de fazer um depósito em sua conta, mais alguma recomendação?
- Não. – Pigarreia. - Eles assinaram os papeis?
- Sim.
- Muito bom, veja bem, como prometi, abrirei mais uma espelunca sua e dessa vez na zona nobre da cidade, o que acha disso?
- Não sei o que dizer senhor.
- Um “muito obrigado” serve.
- Obrigado senhor.  – O homem do outro lado da linha desliga.

Cris chega ao endereço. Realmente a mansão é de tirar o fôlego de qualquer um. Dois seguranças no portão e guaritas com homens armados com automáticas. Câmeras de segurança na esquina e mais algumas coisas. O receio logo vem e ela permanece alguns minutos dentro do carro. Isso levanta suspeitas, um dos gorilas fala algo no rádio e saca sua pistola. Ele anda lentamente apontando sua arma para o para brisa do Gol.
- Coloque suas mãos no volante. – Cris obedece. – bem devagar abaixe o vidro. – Cris faz exatamente o que foi pedido. – o que quer aqui?
- Sou repórter, gostaria de falar com o senhor Meirelles, ele se encontra?
- Aqui é a casa dele, marcou hora?
- Não, me esqueci desse detalhe.
- Então não importune mais e vá embora senhora.
- Eu preciso falar com ele.
- Saia, por favor.
- Tudo bem, tudo bem, vocês estão só cumprindo ordens.

A mulher no banco do carona grita a pleno pulmões para que seu marido dirija mais devagar. As crianças gostam da velocidade em que o carro está. O marido discute calorosamente com sua mulher quando ele perde o controle do veículo que derrapa na pista e bate de frente com outro veículo. A colisão é feia e não sobra quase nada do carro da família Souza. O rapaz que conduzia seu carro em sua pista, morreu na hora. Já a família de Antônio sobrevive mais ambos estão feridos com seus olhos amarelos e os lábios roxos.
- Calma, vou tirá-los daí. – Antônio consegue sair das ferragens. As crianças estão machucadas demais, mais vivas. O acidente foi fatal, ou pelo menos deveria ser para ambos. Com uma força sobrenatural, o chefe da família consegue tirar os filhos dos destroços e coloca-los no acostamento. Antônio corre e abre a porta tirando sua esposa que continua a discutir.
- Eu falei, eu falei, você e sua mania de correr. – Ela para de falar e olha para o rapaz morto dentro do carro amassado. – coitado, se tivesse se vacinado.
- Fale baixo caramba, ninguém pode saber disso.


Antes mesmo de o socorro chegar, a família Souza já havia se retirado do local do acidente deixando lataria amassada e o corpo entre as ferragens do outro motorista.

Cris hesita bastante antes de discar o número de Tiago. Diferente do que pensou, Cris é atendida com simpatia e surpresa por parte do rapaz.
- Cris, você me ligou mesmo. – Cris tenta ao máximo não esboçar na voz a satisfação que está em seu rosto.
- Eu estive na mansão do poderoso Meirelles, mas os gorilas não me deixaram se quer me aproximar do portão.
- Onde você se encontra?
- Em casa, por quê?
- Me passa seu endereço, juntos pensaremos melhor. – Do outro lado da linha a mulher engole seco.
- Tudo bem, anote ai.

Em uma hora Tiago chega à casa de Cris. Mais antes disso ela deu um jeitinho no barraco, tomou um banho e se perfumou. O partidão buzinou e como uma adolescente ela o atendeu da janela.
- Como vão as coisas Cris? – A simpatia do jovem empresário a deixa ainda mais gamada.
- Tudo bem, vamos entrando. – Sorrir. – só não repare a bagunça.
- Quer dizer que os seguranças não deixaram você falar com ele? – Senta no sofá e cruza as pernas.
- Pois é, pelo visto Meirelles é o cara.
- Se é, com certeza ele está por trás desse negócio. Meirelles sempre esteve envolvido em falcatruas e negócios de natureza duvidosa. – Cris franze o cenho.
- E como sabe disso? – Tiago respira fundo.
- Infelizmente eu tive o desprazer de me envolver com ele á alguns anos atrás e sinceramente me senti um estranho no ninho. – Ele olha para Cris que escuta a tudo. – ele me ofereceu uma boa grana para eu abrir o meu negócio, dinheiro ilícito e é claro que eu não aceitei, preferi lutar, conseguir as coisas com unhas e dentes. Esse sempre foi o meu lema.  – Essa declaração deixou Cris fascinada por ele.
- Então você acha que Meirelles está chefiando essa organização?
- Acho não, tenho certeza. – Se ergue.

Meirelles e Gustavo brindam à inauguração da nova filial da farmácia junto com outros associados.
- Parabéns Gustavo, seu negócio vai de vento em poupa hein! – Ergue o copo de uísque.
- Graças ao senhor.
- Deixe de modéstia, você merece, vem fazendo seu trabalho formidavelmente bem, saiba de uma coisa, quanto mais pessoas se vacinarem, maior ficará sua rede de farmácias. – Rir contagiando a outros. Gustavo o chama no canto particular.
- Senhor, e quanto aos efeitos colaterais? – Meirelles muda o semblante e o segura firme pelo braço.
- Esqueça que me perguntou isso, esqueça que pode haver efeitos colaterais em minhas vacinas, tudo bem? – Aperta ainda mais o úmero de Gustavo.
- Sim senhor.
- Agora trate de arrumar mais clientes pra mim.

Tiago limpa o canto da boca depois de degustar um macarrão feito no alho e óleo preparado as pressas por Cris. Sem graça a repórter volta para sala depois de lavar a louça.
- Me desculpe faze-lo esperar é que não consigo relaxar sabendo que minha pia está cheia.
- Entendo. – Toma mais um pouco do vinho. – bom, estava uma delicia seu macarrão, Cris, e espero que tenha mais sorte da próxima vez com Meirelles.
- Você já vai? – Se desmancha.
- Tenho alguns compromissos pela manhã, mas, se precisar de mim não hesite em ligar.
Tiago a beija na face e ela sente o perfume caro do jovem. Enquanto ele sai com o carro ela acompanha tudo olhando pela janela. Depois que o importado de Tiago some ela corre e mesmo com roupa a reporte baixinha se enfia debaixo do chuveiro gelado. Excitada demais para dormir.

Dentro de seu escritório, Meirelles conversa pela web com o professor Honório sobre as vacinas. Realmente ele anda preocupado com os possíveis efeitos colaterais que ela possa causar.
- Fique tranqüilo doutor esse possibilidade é bastante remota. – A voz metálica de Honório soou como música aos ouvidos do magnata.
- E no caso de haver algum incidente, o senhor já tem algo em mente?
- Sim.
- Me diga então?
- O extermínio é a melhor solução. – Meirelles torce os lábios.
- O governo não vai gostar nada dessa sua solução professor.
- Meirelles, você tem o controle total de todas as pessoas vacinadas não tem? – Meirelles não diz nada. – então, se algo der errado, vamos pedir para que elas se vacinem outra vez, mas, dessa vez iremos exterminá-las com uma substancia letal. – Meirelles gira a cadeira.
- Professor, quando me falou que havia criado essa coisa o senhor me assegurou que pretendia proteger as pessoas da violência que cresce a cada dia em nosso país, lembra?
- Sim, e estou protegendo.
- Quando o senhor diz chances remotas o senhor quer dizer que há possibilidade de haver um incidente não é?
- Como todo medicamento, sim. - Meirelles soca a mesa.
- Que diabos. – vocifera.

Um homem se revira na cama. Suando em demasia ele se levanta com seus olhos amarelos e boca roxa. Caminha até o quarto onde sua esposa dorme com as crianças.
- Beth, Beth.
- Oi Carlos, acabei pegando no sono junto com eles, o que foi?
- Estou com fome.
- Vou esquentar alguma coisa pra você no micro-ondas.
- Não Beth, quero carne. – A mulher que também tem os olhos amarelos e boca roxa estranha.
- Como assim, bife?
- De preferência cru. – Saliva.
- Cru, você quer carne crua?
- Loucamente.


Temendo uma catástrofe Meirelles, Honório, Gustavo e outros envolvidos se reúnem secretamente para discutirem o futuro das pessoas vacinadas caso aja um efeito contrario. Meirelles no centro da mesa tenta ao máximo se manter calmo, mais está difícil.
- Nossas famílias correm risco, eu tenho vizinhos que a tomaram Honório, meu filhos convivem com os filhos deles.
- Meirelles, esfrie a cabeça, ainda não temos índices de efeitos colaterais da vacina, ela é eficaz. – Gustavo e os outros apenas assistem à discussão. – imagine o nosso país, o povo desse Brasil vacinado e não temendo essa violência que cresce a cada segundo meu amigo, logo chegaremos ao exterior e ficaremos bilionários, pense.
- Seria ótimo. – Entrelaça os dedos e apóia os cotovelos na mesa. – mas, pense também na tragédia que seria. – Um dos investidores atravessa a palavra de Meirelles.
- Professor, o senhor poderia nos dizer o que essa vacina pode causar caso ela dê errado? – Honório olha para Meirelles que se mostra irritado.
- Canibalismo. – Responde suspirando. O investidor engole seco.
- Canibalismo?
- Sim, tal pessoa sentirá uma fome voraz de carne seja ela humana ou animal. – Um outro investidor se levanta.
- Zumbis? – Meirelles debocha.
- O senhor anda assistindo muito esses seriados doutor, saiba de uma coisa, um apocalipse zumbi seria impossível. – Honório faz um comentário.
- Um apocalipse zumbi é impossível, mas, um canibal é quase que certo. – O silêncio é sepulcral. Meirelles se levanta bastante arrependido de ter topado financiar tal experimento. Ele caminha até a janela e observa a movimentação dos carros e pessoas. O mega empresário se volta para os presentes e se dirige a Honório.
- Se eu souber de qualquer caso, o mais simples que seja, vou iniciar a caçada e o extermínio dessas coisas que o senhor criou...
- Com a sua ajuda, diga-se de passagem, senhor Willian Meirelles.

O gato usa todo seu instinto de defesa para se livrar das mãos do garoto, suas unhas afiadas não foram capazes de afastar o perigo e logo ele é devorado. Na parte dos fundos da casa o pai termina de comer o cão que tanto gostava. O animal sofreu muito antes de dar seu ultimo latido. Dentro da casa a funcionaria ainda tenta se livrar mais sua patroa a morde no pescoço rompendo sua jugular.
- Meu Deus, me ajuda. – A mulher cai segurando o ferimento. O sangue suja o rosto da patroa que não perde tempo e a ataca mordendo membros superiores. O pestinha ainda com pêlos do gato na boca aparece na porta.
- Mãe, também quero. – A mãe mal olha para filho.
- Cai fora, ela é minha, só minha. – Vocifera.

Ainda com muita fome o garoto dispara pelo portão e como um animal faminto ele procura por sua presa. Seus olhos amarelos buscam comida, carne fresca. Um policial organiza o transito aterrorizando a todos com seu apito. Douglas o garoto, atravessa a rua fazendo os carros brecarem bruscamente.
- Ei moleque. – O motorista coloca seu braço pra fora e Douglas o morde tirando um bom pedaço de carne. – Socorro.

O guarda ao ver tal cena saca sua pistola.
- Parado garoto. – Douglas corre na direção do policial ainda mastigando o pedaço que arrancou do outro homem.  – pare se não vou atirar. – O menino não obedece e é alvejado com um tiro certeiro no meio da testa. – meu Deus, ele estava possuído?
As pessoas se aglomeram em volta do corpo que ainda se move. Douglas solta alguns rosnados e espuma pela boca.
- Nossa, acabe logo com o sofrimento dessa criança. – Penalizado o policial aponta mais uma vez sua arma e atira, num salto a vida de Douglas tem fim. O guarda se abaixa e abre os olhos do menino.
- Amarelos? Que diabos é isso?

Cris está pronta para sair de casa quando recebe uma ligação de Tiago, seu coração vem à boca.
- Que surpresa boa. – Diz ela.
- Queria que fosse a primeira a sabe, houve um incidente próximo do meu escritório, um menino louco causou um pandemônio hoje cedo.
- Explica isso melhor.
- Passe aqui.

Com um vestido azul marcando as curvas de seu pequeno corpo, Cris adentra o escritório refrigerado de Tiago que a recepciona com a mesma simpatia de sempre.
- Está linda, Cris.
- Obrigado.
- Aceita uma bebida, um suco, café?
- Um suco talvez. – Cruz as pernas. – você dizia que um menino aterrorizou as pessoas hoje de manha

- Sim. – Abre o frigobar e apanha uma lata de del valle de uva. – e eu tenho certeza de que se trata de uma das pessoas de Meirelles.
- Meu Deus, esse homem precisa parar com esses experimentos.
- Como? Ele é poderoso, ele está envolvido até o pescoço com o governo federal.
- Alguém precisa detê-lo. – Suga o suco geladinho. – a bosta toda é que precisamos de provas.
Tiago se vê olhando para Cris e ela percebe.
- Fica ainda mais linda preocupada. – Ela cora as maças do rosto. – quando terás um folga? – Cris quase que engasga com o líquido.
- Folga?
- Sim folga, descanso, de bobeira. – Rir. – Gostaria de levá-la para jantar, conheço um lugar fantástico.
- Pelos meus cálculos, daqui a dois dias estarei de bobeira.
- Ótimo, está combinado então.

Um reboliço acontece no centro da cidade. Pessoas são atacadas com violência por três furiosos. A policia tenta em vão controlar a situação mas, as pessoas assustadas correm de um lado para outro desesperadas. Um idoso corre e tropeça, um furioso se aproveita e o ataca mordendo seu braço, o velho grita e pede por socorro mais é devorado. Os carros se colidem ou atropelam as pessoas que fogem dos ataques dos furiosos. O pânico e geral. O medo agora faz parte da vida de quem transita pelas ruas movimentadas.


Desesperado um homem acelera seu carro e atropela um furioso o arremessando contra uma parede. O corpo cai já sem vida e com ferimentos. O policial atira nas costas de um deles, mesmo ferido o furioso ainda tenta ataca-lo. O ultimo disparo esfacela a cabeça do vacinado.
- Que coisa horrível. – Lamenta o PM.
Restando apenas um vacinado o policial atira mais não o acerta. O furioso corre e pula mordendo a mão do PM. Os dois rolam numa briga no meio da avenida. Um civil se aproxima com um pedaço de madeira e acerta a cabeça do bicho que nada sente. Aproveitando a distração do animal o policial consegue segurar os braços e quebra-los com facilidade.
- Vamos lá valentão, me morda outra vez. – Soca a boca quebrando também os dentes.
Para evitar mais acidentes o PM atira na cabeça colocando um ponto final na história.
- De onde veio isso? – Coloca a arma de volta ao coldre.

A mesa é virada mesmo com os notebooks sobre ela. Meirelles xinga a todos e pensa em romper com os contratos de todos.
- Quero que entre em ação o grupo especial de extermínio agora. – Honório entra na sala com alguns papéis na mão.
- Nada de decisões extremas meu caro, olhe isso. – Estica o braço e com “delicadeza” Meirelles pega os papeis das mãos do professor.
- O que é isso? – Esbraveja Meirelles. – Contrato?
- Isso, acertamos com o exterior e faturamos bilhões. –Os olhares se cruzam. Meirelles se aproxima de Honório e ao pé do ouvido pergunta.
- Quanto?
- O suficiente para construirmos quinze fabricas. – Sussurra.
Mesmo com dificuldade o mega empresário consegue levantar a mesa.
- Sentem-se. – Pigarreia. – quanto aos aparelhos pago outros novos. – Sorrir.

Cris acessa a internet dentro do carro de Tiago no caminho para o restaurante. A principal noticia é o ataque dos furiosos que acabou com bastante gente ferida e morta.
- Enquanto estamos aqui, Meirelles e seu cartel continua a criar aberrações.
- Talvez estejamos agindo errado.
- Como assim?
- Com certeza ele tem um ponto fraco. – Cris se ajeita no banco do carona.
- O senhor pode se mais específico. – Ironiza.
- Muito bem, Meirelles é raposa velha, com o apoio do governo ele deve ter uma fortaleza, um lugar secreto, um lugar camuflado, ou seja, Meirelles trabalha com laranjas.
- Laranjas! – Franze a testa.
- Sim, lembra que ele tentou me comprar querendo financiar meu negocio?
- Sim, lembro.
- Então, é claro que ele queria algo por trás disso, Meirelles não é tão cordial assim. – Cris volta a olhar para frente.
- E esse lugar chega ou não chega?
- Já chegamos.

Gustavo recebe mais clientes ricos interessados em se vacinarem. Como de costume, eles são levados para os fundos da farmácia e lá se imunizam contra a violência e também contra os acidentes e incidentes.

O peixe estava maravilhoso, alias, a noite estava maravilhosa. Cris e Tiago se divertiram, jogaram conversa fora e principalmente se paqueraram. Mais algo chamava mais atenção da repórter do que o rosto lindo do jovem empresário.
- O que aquela farmácia tem de tão importante. – Indaga Tiago.
- Não sei as pessoas talvez.
- É uma rede nova, inaugurou á pouco tempo.
- Mais ela tem algo de estranho, o que é vendido lá além de medicamentos?
- Se você quiser podemos passar lá depois da sobremesa.

Depois de tomarem sorvete, Cris e Tiago atravessam a rua e entram na farmácia. O lugar é típico de uma drogaria. Cris olha ao redor e logo a balconista oferece seus serviços.
- Boa noite em que posso ajudar? – Sem saber o que dizer Cris gagueja.
- É, é, absorvente. – Tiago cora.
- Temos sim logo ali.
- Obrigado.
Enquanto se dirige para ao as prateleiras Gustavo sai acompanhado de um casal em silêncio. Cris observa e tenta ao máximo escutar algo. Tiago olha ao redor e anda até a saída da farmácia e memoriza a placa do carro do casal.
- Cris, vamos.
- O que?
- Vamos. – Faz uma careta.
Dentro do carro Tiago anota o número da placa e o entrega para Cris.
- Sabe aquele homem magro que saiu junto com o casal?
- Sim.
- Ele é o dono da rede, Gustavo. Na época ele estava junto com Meirelles quando ele queria me comprar.
- E ele te reconheceu? – Arregala os olhos.
- Não, pelo menos eu acho.

Gustavo chama a funcionaria no canto.
- Aquele casal, comprou alguma coisa?
- Ela queria absorvente, senhor.
- E comprou?
- Não, saíram sem levar nada. – Gustavo coça o queixo pontiagudo.

Gustavo disca o número de Meirelles e no segundo toque o empresário atende.
- Fale rápido e sem nomes.
- Acho que o Tiago esteve aqui.
- Tiago?
- Sim, o dono da boate.
- Aquele arrogante orgulhoso?
- Sim, ele e uma mocinha, baixinha de cabelos vermelhos vivos e curtos, muito bonita por sinal.
- Merda, eles desconfiaram de alguma coisa?
- Não sei, entraram e saíram sem comprar nada.
- Não vou colocar meu esquema em risco por causa de um moleque e uma anã.



Tiago estaciona seu carro na calçada em frente à casa de Cris. Ainda pensativo o jovem não escuta a proposta da repórter.
- Tudo bem?
- O que disse?
- Eu perguntei se você não quer entrar um pouco.
- Sim, claro.
Dentro da casa de poucos moveis e bastante organização, Cris acomoda seu visitante no sofá enquanto vai a cozinha pegar uma bebida. Tiago fica a observar o jeito interessante da mulher que o atrai. Ela volta com algumas latas de suco.
- Era só o que tinha. – Justifica envergonhada.
- Relaxa.
- Então, você acha que esse tal de Gustavo está mesmo por trás disso tudo junto com Meirelles?
- Tudo é possível, Cris, por dinheiro esses caras fazem de tudo, até vender sua alma. – Cris faz o sinal da cruz.
- Cruz credo, me deu até arrepios. – Tiago descruza as pernas e se vira para Cris.
- Bom, você não me chamou até aqui para falar de problemas creio eu.
- Bom, sim, quero dizer, não, não sei.
- Mais eu sei. – Segura nas mãos minúsculas da mulher. – pra falar a verdade, gostei de você desde o primeiro dia em que foi no escritório. – Aproxima o rosto.
- Tem certeza? – Cris gagueja.
- Sim. – A beija e ela aceita de cara.

Ofegante um morador de rua corre ladeira a baixo com seu saco nas costas. Cansado ele tropeça e cai dando uma cambalhota. Um furioso o alcança e começa a devorá-lo. Os gritos de socorro do mendigo são abafados pelas mãos do vacinado em sua boca. Uma outra furiosa se junta ao jantar funesto comendo as vísceras. Ao termino da carnificina os vacinados se olham.
- Então, o que achou? – Pergunta o homem.
- Não gostei.
- Vamos atrás de outro então.

Deitada em sua cama de casal Cris sorrir em meio à escuridão do quarto. Já fazia algum tempo que ela não beijava tanto. Apaixonada, esse é o resumo do que ela está sentindo. Paixão. Se pudesse essa noite não acabaria. Como adolescente ela se levanta e acende a luz e se observa no espelho e com o batom escreve Tiago nele. Diferente de seu ultimo relacionamento, Cris sente que está diante de um homem de verdade e não um boçal com foi seu ex. ela volta para cama e com muita dificuldade ela pega no sono.

Pela manhã ela é acordada com o toque do celular. Bocejando ela atende.
- Bom dia, dormiu bem?
- Não, e você?
- Como uma criança.
- Fiquei preocupado, um carro preto não saiu da esquina, tenho a impressão de que estão me vigiando, Cris. – Ela se ergue na cama.
- Nossa e você não chamou a policia?
- Vamos manter a policia fora disso.
- Esse carro preto ainda está ai?
- Não, já foi, preciso te ver.
- Tudo bem, já passo ai.
Meirelles escuta atento tudo o que seu contratado tem a dizer.
- Ele mora sozinho não será difícil pega-lo.
- Ótimo e quando fizer mate-o, e suma com o corpo.
- Pode deixar.
Honório também está presente e opina.
- Temos que eliminar qualquer coisa que possa nos incriminar entendeu Meirelles, estamos faturando com as vacinas, nosso esquema precisa continuar em sigilo.
- Esse sujeito não passa de hoje. – Afirma o capanga.

Os corpos se fundem e os corações batem no mesmo rítmo. Cris e Tiago namoram na sala da casa do rapaz. O beijo é longo e molhado. Na ponta dos pés a repórter se esforça para alcançar a boca do homem.
- Me desculpe nem me atentei pra isso.
- Não precisa se desculpar, só precisa me beijar.

A policia é chamada para mais uma emergência e dessa vez o problema é ainda maior. Um grupo grande de furiosos avança contra civis. As viaturas param bruscamente no meio da rua e os fuzis são disparados. A ordem é para atirar sem hesitação. O governador e o prefeito já se reuniram para tentarem resolver essa questão. Já o governo federal ainda não se pronunciou. Meirelles recebe um telefonema.
- Senhor Meirelles é para o senhor.
- Passe a ligação. – Um bipe e pronto. – Willian Meirelles falando.
- Pelo jeito o seu esquema já foi por água a baixo não é? – Meirelles sente o chão sair debaixo de seus pés.
- Presidente, me desculpe a falta de...
- Pode parar de gaguejar seu idiota, acabou, está tudo acabado, daqui a pouco a imprensa vai cair de pau em cima de você, a menos que resolva isso rápido.
- Já estou tomando as devidas providencias senhor.
- Acho bom, quando vi o projeto achei que estaríamos protegendo a população e não criando aberrações.
- Lhe a seguro que em breve terás boas noticias senhor.
- Assim espero. – Desliga.
Mediano, nem muito gordo e nem muito magro, Meirelles ostenta uma barriga de cerveja e um rosto de expressão marcante, olhando direito ele é quase um psicopata. O telefonema repentino do presidente o deixou sem norte e muito furioso. Como um leão enjaulado ele anda toda a sala bufando como um Pitbull. Honório abre a porta e de longe sente o clima pesando mais de uma tonelada.
- Fedeu?
- E a culpa e tua, Honório.
- Minha? Ou nossa?
- Eu não vou me ferrar sozinho, você vai junto, isso se eu não lhe matar antes.
- Está me ameaçando seu monte de merda. – Os dois ficam se encarando. – pense bem, temos dinheiro o bastante para sumirmos do mapa, eu já estou pensando num plano de fuga, mais por enquanto vamos manter o plano entendeu? Mate esse tal de Tiago e tudo voltará a normalidade. – Muito ofegante Meirelles se afasta.
- Merda. – Soca a mesa.

A policia mantém a resistência contra os furiosos e o número de corpos se acumulando no asfalto só aumenta. A população estarrecida tenta se proteger dos ataques mortais dos vacinados de Meirelles e como o presidente mesmo falou, a imprensa já se posicionou com suas câmeras e microfones.
- O número de furiosos só aumenta e a policia tenta ao máximo combater essas criaturas. – Uma pessoa passa apressada atrás da jornalista. – com licença, um minutinho só, o senhor acha que o governo tem culpa?
- Sem duvida nenhuma, eles ficam criando experiências mirabolantes secretamente e dá nisso ai que vocês estão vendo, criando monstros.
- Obrigado por suas declarações, Zeni Silveira Dosan para o jornal municipal.

O clima começa a esquentar e pouco a pouco os dois vão se entregando ao prazer. Cris e Tiago estão apaixonados e loucos de desejo um pelo outro, isso é visível. Como mestre na arte da sedução, o jovem empresário vai tirando as alças do vestido e acariciando os ombros da baixinha charmosa. Os beijos são quentíssimos e cheios de má intenção. Tiago a quer em seus braços, envolvida em seu corpo esbelto. Cris por sua vez se derrete como manteiga na faca quente. Excitada, ela aperta seu corpo contra o de Tiago numa respiração irregular. Tudo é favorável quando uma bala ultrapassa a janela e acerta a TV que explode. Cris solta um grito agudo e Tiago ainda sentindo a sensação gostosa se joga no tapete puxando sua repórter predileta para junto dele.
- Fique aqui. – Se levanta.
- O que vai fazer?
- Pegar minha arma.
- Você tem uma arma em casa? – Cris tenta se levantar quando outro disparo é ouvido.
- Fique abaixada. – Corre até o armário e pega uma 45 cromada.

Lá fora a Doblô estacionada na calçada abriga dois homens fortemente armado com automáticas. Um dos homens abre a janela e atira acertando a fachada. Inesperadamente um tiro de pistola acerta a lataria do carro.
- Ele está armado. – Afirma o brutamonte de máscara.
- Vamos revidar então.
Ao mesmo tempo os dois atiram fazendo do portão da casa uma peneira. Tiago não é lá essas coisas como atirador, mais consegue assusta-los. Cris abaixada próximo do sofá tenta se manter calma enquanto que Tiago se abriga no corredor dá acesso à sala.
- Fique ai, eles não estão brincando.
- Também acho.
A resistência é mantida por Tiago e isso faz com que os matadores desistam pelo menos por enquanto de executá-lo
- Vamos embora – A Doblô arranca fazendo os pneus marcarem o asfalto. Tiago respira aliviado.
- Já foram, pode sair do canto.
- Com certeza? – Pergunta Cris se esforçando para se levantar.
- Sim.
- Agora eu tenho certeza de que Meirelles está por trás disso tudo, Cris, você tem suas provas.
- E que provas.
Evidente de que a casa de Tiago não é mais segura, por isso ele pega só o necessário e acomoda tudo em seu veículo juntamente com sua pistola. Cris escreve tudo em seu celular ainda nervosa.
- Para onde vamos?
- Ainda não sei, Meirelles, não vai sossegar enquanto não me ver morto.
- Tem algum plano. – Tiago termina de fechar o porta malas.
- Contra atacar.
As ruas se tornaram um campo de guerra. Humanos contra humanos. Gente comendo gente. A policia usa tudo o que estar a seu alcance para eliminar os vacinados de Meirelles que mais parece se multiplicarem. Foi estabelecido um perímetro para proteger a população e também toque de recolher, todos devem ficar trancados dentro de suas casas a menos que queiram ser devorados até os ossos pelos furiosos. O apoio aéreo foi acionado com seus atiradores com ordens para disparar.

O presidente junto com o governador e o prefeito finalmente faz um pronunciamento a nação tentando amenizar a situação que esta fora de controle.
- Estamos investigando e com certeza chegaremos aos culpados. – Diz o presidente. – mais por enquanto peço a todos que evitem saírem de suas casas, protejam seus filhos e confiem no trabalho das forças auxiliares.

Meirelles bate com a cabeça várias vezes contra a parede na intenção de transformar sua vontade de chorar em dor. Fugir será sua ultima saída. Ele olha para sua mesa onde há uma foto de sua mulher e filhos. O que direi a eles? Sou um criminoso fugindo da justiça? Ou simplesmente vou embora os abandonando a própria sorte? Covarde, isso é uma coisa que nunca fui. Meirelles se apressa em ligar.
- Alessandra, arrume as coisas, vamos viajar. – Ele desliga e disca o número de Honório. – Honório hora de partir.

O carro importado de Meirelles dirigido por ele mesmo corta a avenida tendo como visual a Baía. No banco do carona Honório faz as contas.
- Pronto, farei a transferência agora. – Meirelles observa com atenção a estrada.
- Transfira toda minha parte para a conta de minha mulher.
- Posso fazer isso com a minha parte também? – Pergunta o professor.
- Esta usando minha esposa como laranja. – Meirelles rir.
- Seria ótimo.
- Tudo bem, faça a transferência.
Depois de tudo feito Meirelles olha pelo espelho interno.
- Tudo isso são as provas, os experimentos.
- Está tudo ai, nada pode nos incriminar.
- Ótimo. - Meirelles saca sua pistola e atira contra a cabeça de Honório que tomba. Ele liga para um número que está na memória do celular. – vou encostar.

O lugar é deserto onde o importado de Meirelles para. Em seguida um outro carro de marca inferior encosta e de dentro saem os dois brutamontes que foram contratados para eliminar Tiago.
- Fala chefe.
- Coloque o corpo dentro do porta mala.
O corpo ainda quente de Honório é retirado brutalmente do importado e colocado em seu porta malas. Como um psicopata Meirelles acompanha tudo. Seus olhos vivos passeiam pela imensa Baía de águas verdes. O serviço foi feito.
- Pronto chefe. E quanto ao garoto, vamos continuar a missão?
- Não, vamos abortar essa missão, agora peguem meu carro e sumam com ele junto com o corpo desse merda, vou dirigindo essa lata velha mesmo.
- Sim senhor.
Os dois entram no carro e ficam a admirar os compartimentos do veículo, o painel, o cheiro. Meirelles da à volta e pede para que o brutamonte abra o vidro.
- Já ia me esquecendo, o pagamento de vocês. – Meirelles atira matando os dois. Aliviado por não haver ninguém que o incrimine ele empurra o vagabundo morto pro canto e destrava o freio de mão deixando que seu caro carro ande até cair na Baía espalhando água podre. Mais rico do que nunca ele ajeita o paletó e entra no Gol mil e segue para sua residência.

Mais tarde o carro de Tiago para na porta da empresa de Meirelles e antes de sair Cris tenta mais uma vez convence-lo de não enfrentar o leão cara a cara.
- Tiago, por favor, já temos provas, será que vai valer a pena?
- Quero tirar essa história a limpo. – Ele abre a porta e Cris segura em seu braço.
- Te amo. – Eles se olham e depois se beijam.
- Também te amo.

Armado em todos os sentidos Tiago adentra a empresa que parece que saiu dos filmes de ficção cientifica. Na recepção uma moça de sorriso simpático o atende.
- Pois não senhor?
- Gostaria de falar com o senhor Meirelles.
- Tem hora marcada senhor?
- Não.
- Só com hora marcada, e outra, o senhor Meirelles saiu em viajem. – O semblante de Tiago desmorona.
- Obrigado. – Sai quase se arrastando.
Distraída Cris se assusta com Tiago xingando.
- O que foi?
- Meirelles meteu o pé.
- A justiça irá pega-lo.
- Como Cris? Como? Meirelles não dá ponto sem nó, com certeza ele eliminou as provas contra ele. Merda. – Bate no teto do carro.
- E o tal dono da farmácia?
- Esse, coitado, pagará o pato.
- Nossa, e tudo que passamos. O atentado, e agora?
- Cris, nada vai adiantar, somos nós dois contra governo federal, municipal, estadual o carambra a quatro. – Gesticula.
- Então de nada serviu toda essa história? – Cris olha para o parabrisa. – nada valeu a pena?
- Serviu sim, eu te conheci e isso valeu muito a pena.

O presidente, para não sujar mais ainda seu mandato se viu obrigado a fazer da empresa de Meirelles uma estatal. Eliminou todas as provas contra ele e pediu a prisão de Gustavo. O exército entrou na luta contra os vacinados e pouco a pouco eles vão sendo destruídos. Os associados de Meirelles também sumiram do mapa, certamente o governo permitiu que eles gozassem de férias em um paraíso fiscal, ou seja, um cala boca e fica tudo certo. Quanto a Meirelles, bom, ninguém mais ouviu falar.

- Que pena, seria a reportagem da minha vida, imagina, “empresário cria vacina anti morte”. – Diz Cris olhando o Tablet.
- Pois é nem tudo é como a gente imagina. Mais você é boa, vai conseguir outras matérias. – Se ajeita no sofá.
- Sou boa mesmo?
- Sim, por quê?
- Já me viu nua?
- Como? – Tiago gagueja.
- Apague a luz. – Se joga no colo do homem.  FIM.                                          

                                                     

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