“Buscando
respostas”
Nunca
foi tão doloroso. Nunca foi tão estranho. Uma família que outrora
estruturada, cercada de conforto e união, hoje está caindo aos
pedaços, cada um pro seu canto. Ana Célia sai de casa para mais um
dia de trabalho antes de Marcos que permanece sentado tomando seu
café e olhando para o vazio. Duas semanas sem o beijo de boa noite,
duas semanas sem o sexo gostoso, duas semanas sem Ana, dói demais.
Seu filho mais velho aparece na cozinha com a mochila nas costas
olhando para o pai.
-
Bom dia pai!
-
Fala filhão, como passou a noite?
-
Não consegui dormir direito, fiquei pensando. - pega um pão e o
corta.
-
Sei que está sendo difícil toda essa situação pra vocês, mas…
-
Pai. - passa margarina no pão. - você um dia me falou que tínhamos
que lutar pelos nossos sonhos, cuidar do que já possuímos, e no
entanto, você e a mamãe estão desistindo um do outro, me explique
isso, por favor.
Marcos
abaixa a cabeça. Realmente ele não sabe o que responde ao filho.
Logo ele, que passou conselhos preciosos ao garoto que até então
tinha o pai como espelho.
-
Tudo bem, meu filho, você está certo, porém quero que saiba que há
coisas que acontecem na vida que são inevitáveis, como essas por
exemplo.
-
Não consigo ver isso como inevitável, pai, isso tem a ver com
escolhas.
-
As vezes não temos escolhas.
Silêncio,
de ambas as partes. Felipe termina de tomar seu café da manhã
enquanto seu herói permanece ali, calado, inerte, indefeso.
-
Benção, pai!
-
Deus abençoe, filho.
Na
hora do intervalo, Laura preferiu ficar sozinha. Enquanto degusta um
sanduíche ela pensa no clima em sua casa, no que se transformou o
seu lar. Antes, Laura era puro sorriso, dengos e briguinhas com seu
irmão. Ela lembra bem de quando Felipe perdeu a paciência e a
machucou no braço. Laura foi correndo mostrar o ferimento ao pai que
imediatamente puniu o irmão. Em seguida Marcos sentou com ela e
pediu uma explicação. Diante do argumento do pai que é um advogado
bastante eloquente ela confessou que o irritou. Claro que Laura
também foi punida. No primeiro momento ela se viu injustiçada, mas
entendeu depois. Seu pai agiu de forma correta.
Ela
se recorda também dos passeios aos finais de semana. Praia, campo,
parques e tudo mais. O sorriso de sua mãe era o que mais a
encantava. Hoje ela se questiona, seria tudo aquilo fachada? Minha
mãe e meu pai eram realmente um casal feliz? A adolescente tenta
espantar esses pensamentos, porém eles teimam em permanecer.
Serginho, seu colega de classe a surpreende chegando por trás e
tapando seus olhos.
-
Adivinha quem é?
A
menina não está para brincadeira, mas aceita.
-
Com essa voz de taquara rachada, só pode ser você, Serginho.
-
Mais que droga. - se senta ao lado. - e então, o que tá rolando?
-
Esse lance dos meus pais se separando está me deixando maluca.
-
Bom, você sabe que minha mãe está no segundo casamento e confesso
que até hoje não vou com a cara do sujeito.
-
E como você faz para administrar isso? - morde o sanduíche.
-
Olha, eu uso a indiferença como arma. Ele também me trata da mesma
forma.
-
Pois é, no meu caso, eu não sei se minha mãe se casaria de novo. -
ela abaixa a cabeça. - eu não quero ir para casa hoje.
-
Se quiser pode passar a tarde na minha, sem problema.
-
Obrigado, Sérgio.
Quando
o assunto é trabalho, o mundo pode cair ao seu redor, Ana Célia faz
questão de deixar os problemas em casa. Ainda na parte da manhã ela
resolveu duas questões que estavam pendentes a alguns meses. Somente
na hora do almoço foi que ela relaxou um pouco. Na saída para o
restaurante ela foi surpreendida por Guilherme, dono da empresa no
elevador.
-
Dona Ana Célia.
A
mulher arregala os olhos ao ver o poderoso chefão frente a frente.
-
Senhor Guilherme, o senhor por aqui?
-
Vim conhecer a tão falada Ana Célia, a mulher que mais resolve
pepinos em minha empresa, está indo almoçar?
-
Sim. - gagueja.
-
Ótimo, vamos almoçar juntos então.
Ana
engole seco.
“Um
lar em ruínas”
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