-
Por favor, uma xícara de café, e bem forte por favor. - pede
Taveira ao garçom.
O
dia começou péssimo para João Carlos. Além de chegar tarde à
cena do crime, ele foi hostilizado pelos colegas que lá estavam. Foi
preciso a interversão dos outros companheiros para não haver uma
briga. Tudo por que a bebedeira de ontem o deixou de ressaca hoje.
Quando recebeu o telefonema do departamento policial, Taveira ainda
dormia no sofá. Quando finalmente chegou na casa onde ocorreu o
crime, outro agente já havia assumido o caso.
-
Droga, logo ele, o sujeito mais nojento do departamento.
O
café chega saindo fumaça de tão quente. João Carlos confere a
hora no relógio.
-
Sete e quinze. - Olha para o estabelecimento já repleto de clientes.
- vou querer um pão na chapa, por favor.
-
Muita, ou pouca manteiga senhor?
-
Pouca.
Enquanto
aguarda a chegada do pedido, Taveira saca o celular para conferir as
últimas notícias em seu site preferido. Ele resmunga em saber do
resultado do jogo de ontem. Mais uma vez seu time perdeu. O pão na
chapa chega. A ressaca é forte. Ele toma mais um gole de café forte
e olha para a porta da padaria. Nesse momento dois caras entram e se
dirigem ao balcão. Dois jovens bem-vestidos. De onde Taveira está é
possível ouvir a conversa.
-
Dois cafés e dois pães com ovos, por favor.
João
Carlos relaxa, são apenas clientes assim como ele. Seu telefone
toca.
-
Oi. - diz ele.
-
E ai, como foi a noite. - diz uma voz feminina.
-
Uma merda. - come o pão.
-
Nossa, foi tão ruim assim, eu fiz tudo o que você pediu.
-
Certo, eu digo depois que você foi embora, sabe aquela garrafa de
uísque? Então, bebi a metade, estou péssimo, cheguei tarde
no trabalho. - Taveira volta a olhar para os rapazes no balcão.
-
E ai, vamos nos encontrar hoje?
-
Não sei, gata, vou te ligar mais tarde, certo?
-
Vou ficar esperando, tá bom? Beijo.
-
Beijo!
Ele
coloca o celular no bolso do paletó olhando para um dos rapazes, o
mais alto. Taveira suspeita de alguma coisa por baixo da camisa e
resolve conferir de perto.
-
Com licença, posso ver os documentos dos rapazes?
Os
dois olham para o homem alto de terno azul-escuro e gravata branca
com estranheza.
-
Você quem é? - pergunta o mais baixo.
-
João Carlos Taveira, investigador de polícia, quero os documentos
agora.
Os
caras se olham e um deles dá um passo para trás. Taveira saca seu
trinta e oito quando o rapaz também saca sua arma, uma pistola.
-
Solte a arma, você está preso. - vocifera João Carlos.
As
outras pessoas começam a correr. Os marginais estão assustados e
Taveira não para de dar voz de prisão. As armas são apontadas. Os
corações se aceleram. É preciso pensar rápido.
-
Solte a arma. - grita.
-
Qual foi cara, nos deixe ir embora. - fala o mais baixo.
-
Vocês vão sair daqui sim, mas comigo e algemados.
Os
minutos parecem horas até que o investigador tem uma ideia.
Negociar.
-
Tudo bem, vou abaixar a minha arma, ok?
-
Está tentando nos enrolar? - diz o que segura a pistola.
-
Não, só não quero morrer e acho que nem vocês querem morrer, não
é?
Silêncio.
O dono da padaria e os funcionários estão nervosos espremidos num
canto atrás do balcão. As armas continuam apontadas. O marginal
treme e não tira os olhos do policial.
-
Vamos abaixar nossas armas? - propõe Taveira mais uma vez.
-
Isso está fora de questão.
A
tensão só aumenta. Taveira usa toda sua experiência em negociação
e aguarda uma oportunidade. Mesmo sem tirar os olhos do bandido ele
consegue ver ao redor. Caso aconteça uma troca de tiro ele só terá
o balcão para se proteger. O marginal volta a tremer e numa fração
de segundos ele tira o dedo do gatilho. É agora ou nunca. Taveira
fica frio feito uma pedra de gelo e atira acertando o ombro do homem.
O comparsa tenta correr mais é alvejado na perna.
-
Eu avisei. - João Carlos Taveira pega as algemas.
Todos
aplaudem a atitude do investigador. Pelo celular ele chama reforços.
Ainda com dor de cabeça ele é elogiado pelo dono da padaria.
-
Senhor João, muito obrigado, o café e o pão na chapa fica por
conta da casa.
-
Valeu Joaquim.
O
reforço vem e com muita preguiça Taveira se levanta. Hora de ir
para o departamento. Encarar a quarta feira será algo quase
impossível. Taveira não vê a hora de terminar o plantão e cair
nos braços de Dora. FIM
João
Carlos
Taveira
Taveira
estaciona mal e porcamente seu carro na vaga do estabelecimento. Seu
humor anda a baixo do nível e por isso ele bate a porta do veículo
com força. A noite não foi nada boa com Dora. Depois de resolver um
perigoso caso de roubo de carga e de trocar tiros com dois bandidos
ao mesmo tempo, o investigador precisa urgente de uma garrafa de
uísque e uma carteira de cigarros. Seu terno azul-escuro está a
amassado e na manga esquerda há uma mancha de sangue. O dono do bar
já o conhece de longa data.
-
Taveira, como tem passado?
-
Boa noite, Jaime, quero o de sempre e rápido.
-
Opa, você quem manda meu chefe.
Nesse
meio tempo uma menina de mais ou menos vinte anos entra no bar com o
pânico estampado no rosto. Ela olha para Taveira e depois para
Jaime.
-
Com licença, posso usar o banheiro?
-
Você precisa consumir algo antes, tudo bem?
-
Sério?
-
Muito sério. - entrega o uísque e os cigarros a Taveira.
-
É que preciso trocar meu absorvente.
Tanto
Jaime como Taveira engolem seco.
-
Ok, vai lá, nos fundos a esquerda.
Taveira
se despede de Jaime quando dois caras entram.
-
Aquela vagabunda entrou aqui, não foi? - pergunta um com uma
pistola. Jaime fica paralisado e olhando para Taveira.
-
Ei pessoal, vamos com calma. - diz o investigador.
-
Quem é você otário, cadê a garota?
-
Calma, abaixe sua arma…
O
rapaz aplica um forte soco em Taveira que deixa a garrafa de uísque
cair.
-
Vamos procurar, revirem essa espelunca. - mais dois caras armados
entram no bar.
Eles
se espalham. João Carlos se levanta sangrando pelo nariz. Sua fúria
quase incinera seu corpo. Ele olha para a direção do corredor onde
ficam os banheiros. Um dos bandidos vai para trás do balcão.
Distraído ele não vê o policial atrás dele.
-
Pode deixar que eu procuro pra você. - acerta um forte soco apagando
o homem de vez.
O
trinta e oito é sacado. Jaime ainda se encontra paralisado.
-
Jaime, se esconda, vamos, rápido.
Dois
caras saem de trás das máquinas de fliperama apontando suas armas.
Taveira se abriga e atira. Um deles é alvejado no ombro. O outro
volta para trás da máquina. Mais tiros. As bebidas que estão no
mostruário são atingidas. Taveira revida protegendo Jaime. O outro
bandido vai atirar mais a arma falha. João aproveita para deixá-lo
fora de combate. O tiro o acertou no peito. Taveira sai de trás do
balcão e atira na perna do vagabundo que segurava seu ombro ferido.
-
Argh!
O
investigador corre em direção ao corredor onde estão mais dois
marginais. Um deles com quase dois metros de altura e dois de largura
pula pra cima do investigador. Dois fortes socos deixam Taveira sem
rumo. Outro soco e a visão de João começa a falhar. Ele é jogado
contra a porta do depósito que se quebra. Como um animal feroz ele
avança socando o rosto do policial. Taveira cai sobre as caixas de
cerveja. A dor nas costas o faz contorcer. O investigador é
torturado, moído pelo gigante. João volta a ser arremessado contra
as caixas de cerveja e depois disso silêncio.
O
homem enorme dá as costas e sai do depósito. O outro se encontra
dentro do banheiro feminino segurando a garota pelo pescoço.
-
Cadê minha grana sua vagabunda, hein, cadê?
O
rosto da menina já se encontra roxo e ela sente a morte de perto.
Seus olhos estão virados quando o gigante solta um grito gutural e
depois outro. Taveira crava mais uma vez uma metade de uma garrafa
quebrada nas costas do marginal que vai desabando até cair de vez.
-
Solte a garota, você está preso.
-
Quem é você, imbecil? - solta a menina que desmaia e saca sua faca.
-
Taveira. - avança contra o bandido segurado o pedaço de garrafa.
Os
dois brigam feio dentro do banheiro. Trocam socos e João é cortado
no braço. Quando vai aplicar outro golpe, Taveira o chuta no rosto
arrebentando seu nariz. O pedaço de vidro é enterrado no peito do
bandido. Taveira consegue desarmá-lo.
-
Você está preso, seu merda!
Depois
de tudo Taveira sai do corredor puxando o vagabundo pelo pé e
segurando a menina. Jaime sai de trás do balcão.
-
Quer que eu chame a polícia?
-
Jaime, eu sou a polícia. FIM
João
Carlos
TAVEIRA
O
traficante olha mais uma vez para o relógio em seu pulso e cospe o
cigarro. O lugar é deserto e com grandes árvores que fazem sombra
por toda a parte. Local perfeito para uma transação. De repente uma
van vem cortando o asfalto irregular e breca quase atropelando o
bandido.
-
Mas que merda é essa? - se levanta.
-
Me desculpe chefe. - diz o motorista. - esse carro está com problema
sério de freio.
-
Tá bom, agora me diga, trouxe o que eu lhe pedi?
-
Sim senhor. - desce da van e se dirige a parte de trás do veículo.
-
Quantas armas trouxe? - acende outro cigarro.
-
Quinze, pra começar.
O
traficante olha para os comparsas e depois para aquele sujeito
desengonçado vestido com macacão de empresa de limpeza. O mesmo
abre as portas traseiras da van e mostra a encomenda.
-
Pistolas, fuzis e doze, tá bom ou quer mais?
-
Bom não está, mas, vamos negociar, eu pago cem mil.
O
sujeito dentuço e de olhar penetrante solta uma gargalhada alta.
-
Meu amigo, só a doze custa 300 mil.
-
Tá de sacanagem, tudo isso?
-
Pois é meu chapa, tudo subiu de preço. - olha para o alto. - então,
é pegar ou largar?
O
bandido coça a cabeça. Olha para o restante do grupo e depois para
o fornecedor maluco. Saca o celular e abre a calculadora. Depois de
alguns minutos ele diz.
-
400 mil e não se fala mais nisso.
-
Tem certeza?
-
Sim, claro.
-
Negócio fechado. Mas antes quero fazer uma contra proposta.
-
Merda, fala logo, isso já está demorando muito.
-
Seus homens estão armados? - fala olhando para cada um deles.
-
Claro que sim.
-
Quero comprar as armas. O que vocês tem ai?
-
Pistolas e uma metralhadora. - diz um dos asseclas.
-
Ótimo, quero todas, ofereço 600 mil em todas, o que acha?
Um
momento de silêncio e olhares desconfiados.
-
Fechado! - diz o chefe.
-
Muito bom, me entreguem por favor.
O
dentuço recolhe todas as armas e se volta para o traficante líder.
-
Foi bom fazer negócio com você, vou pegar a mala com o dinheiro.
Ele
se encaminha para a van e abre a porta lateral de onde desce agentes
uniformizados e armados com fuzis e dando voz de prisão.
-
Todos no chão, vamos, vamos.
O
dentuço e desengonçado retira o disfarce revelando o inspetor João
Carlos Taveira. O capitão se volta para ele.
-
Bom trabalho inspetor.
-
Fizemos um bom trabalho. FIM
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