domingo, 20 de agosto de 2017

João Carlos Taveira - Série completa




         - Por favor, uma xícara de café, e bem forte por favor. - pede Taveira ao garçom.
        O dia começou péssimo para João Carlos. Além de chegar tarde à cena do crime, ele foi hostilizado pelos colegas que lá estavam. Foi preciso a interversão dos outros companheiros para não haver uma briga. Tudo por que a bebedeira de ontem o deixou de ressaca hoje. Quando recebeu o telefonema do departamento policial, Taveira ainda dormia no sofá. Quando finalmente chegou na casa onde ocorreu o crime, outro agente já havia assumido o caso.
         - Droga, logo ele, o sujeito mais nojento do departamento.
        O café chega saindo fumaça de tão quente. João Carlos confere a hora no relógio.
        - Sete e quinze. - Olha para o estabelecimento já repleto de clientes. - vou querer um pão na chapa, por favor.
        - Muita, ou pouca manteiga senhor?
        - Pouca.
     Enquanto aguarda a chegada do pedido, Taveira saca o celular para conferir as últimas notícias em seu site preferido. Ele resmunga em saber do resultado do jogo de ontem. Mais uma vez seu time perdeu. O pão na chapa chega. A ressaca é forte. Ele toma mais um gole de café forte e olha para a porta da padaria. Nesse momento dois caras entram e se dirigem ao balcão. Dois jovens bem-vestidos. De onde Taveira está é possível ouvir a conversa.
        - Dois cafés e dois pães com ovos, por favor.
        João Carlos relaxa, são apenas clientes assim como ele. Seu telefone toca.
        - Oi. - diz ele.
        - E ai, como foi a noite. - diz uma voz feminina.
        - Uma merda. - come o pão.
        - Nossa, foi tão ruim assim, eu fiz tudo o que você pediu.
       - Certo, eu digo depois que você foi embora, sabe aquela garrafa de uísque? Então, bebi a metade, estou péssimo, cheguei tarde no trabalho. - Taveira volta a olhar para os rapazes no balcão.
        - E ai, vamos nos encontrar hoje?
        - Não sei, gata, vou te ligar mais tarde, certo?
        - Vou ficar esperando, tá bom? Beijo.
        - Beijo!
       Ele coloca o celular no bolso do paletó olhando para um dos rapazes, o mais alto. Taveira suspeita de alguma coisa por baixo da camisa e resolve conferir de perto.
       - Com licença, posso ver os documentos dos rapazes?
    Os dois olham para o homem alto de terno azul-escuro e gravata branca com estranheza.
      - Você quem é? - pergunta o mais baixo.
      - João Carlos Taveira, investigador de polícia, quero os documentos agora.
     Os caras se olham e um deles dá um passo para trás. Taveira saca seu trinta e oito quando o rapaz também saca sua arma, uma pistola.
      - Solte a arma, você está preso. - vocifera João Carlos.
     As outras pessoas começam a correr. Os marginais estão assustados e Taveira não para de dar voz de prisão. As armas são apontadas. Os corações se aceleram. É preciso pensar rápido.
      - Solte a arma. - grita.
      - Qual foi cara, nos deixe ir embora. - fala o mais baixo.
      - Vocês vão sair daqui sim, mas comigo e algemados.
     Os minutos parecem horas até que o investigador tem uma ideia. Negociar.
     - Tudo bem, vou abaixar a minha arma, ok?
     - Está tentando nos enrolar? - diz o que segura a pistola.
     - Não, só não quero morrer e acho que nem vocês querem morrer, não é?
    Silêncio. O dono da padaria e os funcionários estão nervosos espremidos num canto atrás do balcão. As armas continuam apontadas. O marginal treme e não tira os olhos do policial.
     - Vamos abaixar nossas armas? - propõe Taveira mais uma vez.
      - Isso está fora de questão.
    A tensão só aumenta. Taveira usa toda sua experiência em negociação e aguarda uma oportunidade. Mesmo sem tirar os olhos do bandido ele consegue ver ao redor. Caso aconteça uma troca de tiro ele só terá o balcão para se proteger. O marginal volta a tremer e numa fração de segundos ele tira o dedo do gatilho. É agora ou nunca. Taveira fica frio feito uma pedra de gelo e atira acertando o ombro do homem. O comparsa tenta correr mais é alvejado na perna.
        - Eu avisei. - João Carlos Taveira pega as algemas.
      Todos aplaudem a atitude do investigador. Pelo celular ele chama reforços. Ainda com dor de cabeça ele é elogiado pelo dono da padaria.
        - Senhor João, muito obrigado, o café e o pão na chapa fica por conta da casa.
        - Valeu Joaquim.
    O reforço vem e com muita preguiça Taveira se levanta. Hora de ir para o departamento. Encarar a quarta feira será algo quase impossível. Taveira não vê a hora de terminar o plantão e cair nos braços de Dora. FIM


João Carlos
Taveira

       Taveira estaciona mal e porcamente seu carro na vaga do estabelecimento. Seu humor anda a baixo do nível e por isso ele bate a porta do veículo com força. A noite não foi nada boa com Dora. Depois de resolver um perigoso caso de roubo de carga e de trocar tiros com dois bandidos ao mesmo tempo, o investigador precisa urgente de uma garrafa de uísque e uma carteira de cigarros. Seu terno azul-escuro está a amassado e na manga esquerda há uma mancha de sangue. O dono do bar já o conhece de longa data.
        - Taveira, como tem passado?
        - Boa noite, Jaime, quero o de sempre e rápido.
        - Opa, você quem manda meu chefe.
      Nesse meio tempo uma menina de mais ou menos vinte anos entra no bar com o pânico estampado no rosto. Ela olha para Taveira e depois para Jaime.
       - Com licença, posso usar o banheiro?
       - Você precisa consumir algo antes, tudo bem?
        - Sério?
        - Muito sério. - entrega o uísque e os cigarros a Taveira.
        - É que preciso trocar meu absorvente.
        Tanto Jaime como Taveira engolem seco.
        - Ok, vai lá, nos fundos a esquerda.

        Taveira se despede de Jaime quando dois caras entram.
       - Aquela vagabunda entrou aqui, não foi? - pergunta um com uma pistola. Jaime fica paralisado e olhando para Taveira.
        - Ei pessoal, vamos com calma. - diz o investigador.
        - Quem é você otário, cadê a garota?
        - Calma, abaixe sua arma…
        O rapaz aplica um forte soco em Taveira que deixa a garrafa de uísque cair.
      - Vamos procurar, revirem essa espelunca. - mais dois caras armados entram no bar.

     Eles se espalham. João Carlos se levanta sangrando pelo nariz. Sua fúria quase incinera seu corpo. Ele olha para a direção do corredor onde ficam os banheiros. Um dos bandidos vai para trás do balcão. Distraído ele não vê o policial atrás dele.
       - Pode deixar que eu procuro pra você. - acerta um forte soco apagando o homem de vez.
       O trinta e oito é sacado. Jaime ainda se encontra paralisado.
       - Jaime, se esconda, vamos, rápido.
      Dois caras saem de trás das máquinas de fliperama apontando suas armas. Taveira se abriga e atira. Um deles é alvejado no ombro. O outro volta para trás da máquina. Mais tiros. As bebidas que estão no mostruário são atingidas. Taveira revida protegendo Jaime. O outro bandido vai atirar mais a arma falha. João aproveita para deixá-lo fora de combate. O tiro o acertou no peito. Taveira sai de trás do balcão e atira na perna do vagabundo que segurava seu ombro ferido.
       - Argh!
     O investigador corre em direção ao corredor onde estão mais dois marginais. Um deles com quase dois metros de altura e dois de largura pula pra cima do investigador. Dois fortes socos deixam Taveira sem rumo. Outro soco e a visão de João começa a falhar. Ele é jogado contra a porta do depósito que se quebra. Como um animal feroz ele avança socando o rosto do policial. Taveira cai sobre as caixas de cerveja. A dor nas costas o faz contorcer. O investigador é torturado, moído pelo gigante. João volta a ser arremessado contra as caixas de cerveja e depois disso silêncio.
     O homem enorme dá as costas e sai do depósito. O outro se encontra dentro do banheiro feminino segurando a garota pelo pescoço.
       - Cadê minha grana sua vagabunda, hein, cadê?
       O rosto da menina já se encontra roxo e ela sente a morte de perto. Seus olhos estão virados quando o gigante solta um grito gutural e depois outro. Taveira crava mais uma vez uma metade de uma garrafa quebrada nas costas do marginal que vai desabando até cair de vez.
       - Solte a garota, você está preso.
       - Quem é você, imbecil? - solta a menina que desmaia e saca sua faca.
       - Taveira. - avança contra o bandido segurado o pedaço de garrafa.
     Os dois brigam feio dentro do banheiro. Trocam socos e João é cortado no braço.     Quando vai aplicar outro golpe, Taveira o chuta no rosto arrebentando seu nariz. O pedaço de vidro é enterrado no peito do bandido. Taveira consegue desarmá-lo.
       - Você está preso, seu merda!
      Depois de tudo Taveira sai do corredor puxando o vagabundo pelo pé e segurando a menina. Jaime sai de trás do balcão.
       - Quer que eu chame a polícia?
       - Jaime, eu sou a polícia. FIM


João Carlos
TAVEIRA


      O traficante olha mais uma vez para o relógio em seu pulso e cospe o cigarro. O lugar é deserto e com grandes árvores que fazem sombra por toda a parte. Local perfeito para uma transação. De repente uma van vem cortando o asfalto irregular e breca quase atropelando o bandido.
        - Mas que merda é essa? - se levanta.
      - Me desculpe chefe. - diz o motorista. - esse carro está com problema sério de freio.
         - Tá bom, agora me diga, trouxe o que eu lhe pedi?
         - Sim senhor. - desce da van e se dirige a parte de trás do veículo.
         - Quantas armas trouxe? - acende outro cigarro.
         - Quinze, pra começar.
      O traficante olha para os comparsas e depois para aquele sujeito desengonçado vestido com macacão de empresa de limpeza. O mesmo abre as portas traseiras da van e mostra a encomenda.
        - Pistolas, fuzis e doze, tá bom ou quer mais?
        - Bom não está, mas, vamos negociar, eu pago cem mil.
        O sujeito dentuço e de olhar penetrante solta uma gargalhada alta.
        - Meu amigo, só a doze custa 300 mil.
        - Tá de sacanagem, tudo isso?
      - Pois é meu chapa, tudo subiu de preço. - olha para o alto. - então, é pegar ou largar?
        O bandido coça a cabeça. Olha para o restante do grupo e depois para o fornecedor maluco. Saca o celular e abre a calculadora. Depois de alguns minutos ele diz.
            - 400 mil e não se fala mais nisso.
             - Tem certeza?
             - Sim, claro.
             - Negócio fechado. Mas antes quero fazer uma contra proposta.
             - Merda, fala logo, isso já está demorando muito.
             - Seus homens estão armados? - fala olhando para cada um deles.
             - Claro que sim.
             - Quero comprar as armas. O que vocês tem ai?
             - Pistolas e uma metralhadora. - diz um dos asseclas.
             - Ótimo, quero todas, ofereço 600 mil em todas, o que acha?
             Um momento de silêncio e olhares desconfiados.
            - Fechado! - diz o chefe.
            - Muito bom, me entreguem por favor.
           O dentuço recolhe todas as armas e se volta para o traficante líder.
            - Foi bom fazer negócio com você, vou pegar a mala com o dinheiro.
      Ele se encaminha para a van e abre a porta lateral de onde desce agentes uniformizados e armados com fuzis e dando voz de prisão.
            - Todos no chão, vamos, vamos.
        O dentuço e desengonçado retira o disfarce revelando o inspetor João Carlos Taveira. O capitão se volta para ele.
            - Bom trabalho inspetor.
            - Fizemos um bom trabalho. FIM                

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