1
O
carro para lentamente em frente a casa. Taveira desce do veículo e
fecha seu paletó preto. O policial olha para as residências
vizinhas e tudo parece calmo. Segunda feira sempre foi o pior dia
para um homem com João Carlos. Depois de um final de semana inteiro
curtindo com sua garota, o agente da lei tende a enfrentar o trabalho
desejando está nos braços de sua amada jogado naquela cama quente.
A realidade é dura. Taveira confere o endereço mais uma vez e
balbucia algo.
-
Deve ser aqui mesmo.
O
bairro é de classe média. A rua é de paralelepípedo e as casas
possuem muros baixos. A casa a qual Taveira precisa investigar se
encontra bem a sua frente. A pintura branca com detalhes em
azul-claro a deixam com aspecto de leveza. João Carlos se aproxima
do portão e toca o interfone.
-
Aqui é da polícia, preciso falar com o senhor Vicente, ele se
encontra?
Nada.
Nenhuma resposta.
-
Senhor Vicente?
De
repente uma voz metálica soa nervosamente pelo alto-falante.
-
O que você quer, policial?
-
Sou o policial João Carlos Taveira, preciso conversar com o senhor,
posso entrar?
A
demora faz Taveira ficar irritado. O portão se abre automaticamente.
O agente ganha o quintal gramado chegando até a porta da varanda.
Alguns segundos se passam e a maçaneta gira. Um homem negro de meia
idade com quase dois metros de altura surge intimidando o policial.
-
Pois não?
-
Houve uma denúncia de que aqui estaria sendo uma refinaria de
entorpecentes, posso dar uma olhada?
O
gigante olha para o policial e depois para o interior de sua casa.
-
E se eu falar que não pode?
-
Bom, terei que usar de outra estratégia, digamos.
-
Você tem um mandato? - levanta uma das sobrancelhas.
-
Sim, já havia me esquecido. - enfia a mão no bolso interno do
paletó. - veja com seus próprios olhos.
-
Tudo bem, você venceu, entre.
2
A
casa é bem organizada com moveis claros e quadros com suas pinturas
abstratas. A sala é ampla e ventilada. Taveira acompanha o gigante
até a cozinha.
-
Café, água ou uma bebida forte?
-
Nada. Posso dar uma olhada no banheiro?
Vicente
abre espaço para o policial passar.
O
banheiro cheira a desinfetante. O cheiro é muito forte. Na pia há
uma embalagem de preservativo barato e no canto perto do vaso
sanitário uma calcinha pende no suporte.
-
Você está acompanhado?
-
Estava, até duas horas atrás. Que garota. - lambe os lábios.
-
Posso ir até o quarto?
Vicente
aperta os olhos.
-
Está um pouco desarrumado.
-
Sem problemas.
O
quarto realmente está uma bagunça. Na cama de casal há mais
embalagens de preservativo. No teto um espelho.
-
Sabe como é, a garota gosta de se ver transando.
Taveira
continua sua busca e pede para Vicente abrir o armário. Nada de
suspeito, apenas roupas, bonés e alguns produtos sexuais.
-
Foi uma aventura e tanto, não foi? - Taveira olha para Vicente.
-
Nossa, aquelas meninas eram demais. - esfrega as mãos.
-
Duas?
-
Sim, duas, porque, cometi algum crime?
-
De forma alguma. Vamos.
Taveira
termina a busca depois de meia hora revirando a casa. Nada encontrou.
Eles voltam para a sala e vicente mais uma vez oferece bebida.
-
Então, que tal uma cerveja segunda de manhã? - pergunta animado.
-
Acho que vou aceitar.
João
Carlos se acomoda no sofá e aguarda a chegada da bebida gelada. Olha
mais uma vez para a casa e depois para as almofadas no chão. Uma
delas chama sua atenção. Ele a pega. Ela tem um formato de coração
e um zíper na lateral. O policial aperta a almofada e sente algo
consistente dentro. O zíper é aberto e de dentro sai um controle
remoto. O coração de Taveira volta acelerar. Ele analisa o objeto e
sente a presença de alguém parado a sua frente.
-
Você é bastante esperto, Taveira.
O
bastão de beisebol acerta em cheio o rosto do policial. O estalo na
cabeça de Taveira foi grande e por alguns segundos ele tem a visão
turva. Um outro forte golpe no ombro o faz urrar de tanta dor. João
Carlos vai ao chão.
-
A festa só está começando, vou chamar um amigo para brincar
também.
Vicente
pega o controle e o direciona para uma parede. A mesma se abre e de
dentro do compartimento secreto sai um outro gigante negro com um
bastão de beisebol apoiado no ombro.
-
Um policial almofadinha. - cospe o palito de dente. - vamos ver até
onde ele aguenta, maninho.
-
Desculpe minha falta de educação, Taveira, esse é meu irmão
Valdecir, ele ama espancar.
Taveira
tenta se levantar mais recebe outro golpe. O sangue começa a
escorrer. Pela primeira vez em muito tempo ele vê a vida passar
diante de seus olhos. Valdecir ergue seu bastão e o acerta com força
nas costas. João Carlos solta um grito gutural e se contorce no piso
frio. Vicente acerta outro e Valdecir outro.
-
Nossa, essa doeu em mim. - Valdecir sorrir se preparando para outro
golpe.
A
respiração de Taveira se torna mais pesada a cada golpe. Maldita
hora foi ter aceitado esse mandato de busca, e sozinho. Onde está
minha arma? Um dos bastões o acerta na cabeça e ele tem
alucinações. Muito sangue, muita dor, muito arrependimento. Seria
um bom dia pra morrer? Ele precisa agir rápido, muito rápido.
3
Taveira
consegue abrir os olhos e medir a distância entre ele e eles. Ele
precisa agir rápido antes que perca os sentidos. João Carlos geme
com mais um golpe na perna já ferida. Com a outra ele aplica uma
rasteira em Vicente que cai. Taveira rola pra cima do gigante o
acertando com uma cotovelada. O nariz de Vicente explode. Vendo seu
irmão desacordado, Valdecir amaldiçoa o policial erguendo seu
bastão. Taveira olha para ele e puxando forças de onde não há,
ele consegue ficar de pé e socá-lo no rosto.
-
Maldito, você vai morrer. - vocifera Valdecir.
O
bastão é deixado de lado e ambos trocam violentos socos. Realmente
o irmão de Vicente é muito forte. Ele ginga com se fosse um
pugilista profissional e golpeia. O soco acerta o nariz de Taveira
que sente a alma sair de seu corpo. O gancho quase nocauteia o
policial. A visão de Taveira volta ficar turva. “Eu não posso
apagar agora, não posso”
Para
sobreviver é preciso apelar. João Carlos Taveira não queria, mas
foi obrigado. Entre um golpe e outro que recebe ele mira nas partes
baixas do gigante Valdecir e chuta. O homem abre a boca e não emite
som. Aos poucos, como uma árvore, homem vai desmoronando. Taveira o
chuta no rosto. Valdecir apaga de vez. João Carlos se joga no sofá
ofegante e gemendo ao mesmo tempo. Com muita dificuldade ele saca seu
celular que teve a tela quebrada.
-
Departamento de polícia, preciso de reforço.
O
chefe do departamento se aproxima de Taveira com seu mal humor de
sempre.
-
O que você fez foi burrice, você sabe disso, não sabe?
-
Sim! - geme sendo conduzindo por um médico até a ambulância.
-
Vir sozinho para uma busca como essa foi demais, esses caras são
perigosos, são assassinos, eles tinham uma refinaria de cocaína
secretamente.
-
Um muito obrigado serve. - se deita na maca.
-
Tudo bem, tudo bem, você fez um ótimo trabalho devo admitir.
Mais
dois bandidos fora de circulação. Taveira é levado para o
hospital. Enquanto vida tiver, Taveira continuará fazendo seu
trabalho. Servir e proteger. FIM
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