terça-feira, 29 de agosto de 2017

João Carlos Taveira




1


O carro para lentamente em frente a casa. Taveira desce do veículo e fecha seu paletó preto. O policial olha para as residências vizinhas e tudo parece calmo. Segunda feira sempre foi o pior dia para um homem com João Carlos. Depois de um final de semana inteiro curtindo com sua garota, o agente da lei tende a enfrentar o trabalho desejando está nos braços de sua amada jogado naquela cama quente. A realidade é dura. Taveira confere o endereço mais uma vez e balbucia algo.
           - Deve ser aqui mesmo.
O bairro é de classe média. A rua é de paralelepípedo e as casas possuem muros baixos. A casa a qual Taveira precisa investigar se encontra bem a sua frente. A pintura branca com detalhes em azul-claro a deixam com aspecto de leveza. João Carlos se aproxima do portão e toca o interfone.
          - Aqui é da polícia, preciso falar com o senhor Vicente, ele se encontra?
           Nada. Nenhuma resposta.
          - Senhor Vicente?
          De repente uma voz metálica soa nervosamente pelo alto-falante.
          - O que você quer, policial?
       - Sou o policial João Carlos Taveira, preciso conversar com o senhor, posso entrar?
A demora faz Taveira ficar irritado. O portão se abre automaticamente. O agente ganha o quintal gramado chegando até a porta da varanda. Alguns segundos se passam e a maçaneta gira. Um homem negro de meia idade com quase dois metros de altura surge intimidando o policial.
          - Pois não?
         - Houve uma denúncia de que aqui estaria sendo uma refinaria de entorpecentes, posso dar uma olhada?
          O gigante olha para o policial e depois para o interior de sua casa.
          - E se eu falar que não pode?
          - Bom, terei que usar de outra estratégia, digamos.
          - Você tem um mandato? - levanta uma das sobrancelhas.
         - Sim, já havia me esquecido. - enfia a mão no bolso interno do paletó. - veja com seus próprios olhos.
          - Tudo bem, você venceu, entre.

2

A casa é bem organizada com moveis claros e quadros com suas pinturas abstratas. A sala é ampla e ventilada. Taveira acompanha o gigante até a cozinha.
           - Café, água ou uma bebida forte?
           - Nada. Posso dar uma olhada no banheiro?
           Vicente abre espaço para o policial passar.
O banheiro cheira a desinfetante. O cheiro é muito forte. Na pia há uma embalagem de preservativo barato e no canto perto do vaso sanitário uma calcinha pende no suporte.
           - Você está acompanhado?
           - Estava, até duas horas atrás. Que garota. - lambe os lábios.
           - Posso ir até o quarto?
           Vicente aperta os olhos.
           - Está um pouco desarrumado.
           - Sem problemas.

O quarto realmente está uma bagunça. Na cama de casal há mais embalagens de preservativo. No teto um espelho.
           - Sabe como é, a garota gosta de se ver transando.
        Taveira continua sua busca e pede para Vicente abrir o armário. Nada de suspeito, apenas roupas, bonés e alguns produtos sexuais.
           - Foi uma aventura e tanto, não foi? - Taveira olha para Vicente.
           - Nossa, aquelas meninas eram demais. - esfrega as mãos.
           - Duas?
           - Sim, duas, porque, cometi algum crime?
           - De forma alguma. Vamos.

Taveira termina a busca depois de meia hora revirando a casa. Nada encontrou. Eles voltam para a sala e vicente mais uma vez oferece bebida.
          - Então, que tal uma cerveja segunda de manhã? - pergunta animado.
          - Acho que vou aceitar.
João Carlos se acomoda no sofá e aguarda a chegada da bebida gelada. Olha mais uma vez para a casa e depois para as almofadas no chão. Uma delas chama sua atenção. Ele a pega. Ela tem um formato de coração e um zíper na lateral. O policial aperta a almofada e sente algo consistente dentro. O zíper é aberto e de dentro sai um controle remoto. O coração de Taveira volta acelerar. Ele analisa o objeto e sente a presença de alguém parado a sua frente.
            - Você é bastante esperto, Taveira.
O bastão de beisebol acerta em cheio o rosto do policial. O estalo na cabeça de Taveira foi grande e por alguns segundos ele tem a visão turva. Um outro forte golpe no ombro o faz urrar de tanta dor. João Carlos vai ao chão.
            - A festa só está começando, vou chamar um amigo para brincar também.
         Vicente pega o controle e o direciona para uma parede. A mesma se abre e de dentro do compartimento secreto sai um outro gigante negro com um bastão de beisebol apoiado no ombro.
          - Um policial almofadinha. - cospe o palito de dente. - vamos ver até onde ele aguenta, maninho.
           - Desculpe minha falta de educação, Taveira, esse é meu irmão Valdecir, ele ama espancar.
         Taveira tenta se levantar mais recebe outro golpe. O sangue começa a escorrer. Pela primeira vez em muito tempo ele vê a vida passar diante de seus olhos. Valdecir ergue seu bastão e o acerta com força nas costas. João Carlos solta um grito gutural e se contorce no piso frio. Vicente acerta outro e Valdecir outro.
           - Nossa, essa doeu em mim. - Valdecir sorrir se preparando para outro golpe.
A respiração de Taveira se torna mais pesada a cada golpe. Maldita hora foi ter aceitado esse mandato de busca, e sozinho. Onde está minha arma? Um dos bastões o acerta na cabeça e ele tem alucinações. Muito sangue, muita dor, muito arrependimento. Seria um bom dia pra morrer? Ele precisa agir rápido, muito rápido.

3

Taveira consegue abrir os olhos e medir a distância entre ele e eles. Ele precisa agir rápido antes que perca os sentidos. João Carlos geme com mais um golpe na perna já ferida. Com a outra ele aplica uma rasteira em Vicente que cai. Taveira rola pra cima do gigante o acertando com uma cotovelada. O nariz de Vicente explode. Vendo seu irmão desacordado, Valdecir amaldiçoa o policial erguendo seu bastão. Taveira olha para ele e puxando forças de onde não há, ele consegue ficar de pé e socá-lo no rosto.
              - Maldito, você vai morrer. - vocifera Valdecir.
O bastão é deixado de lado e ambos trocam violentos socos. Realmente o irmão de Vicente é muito forte. Ele ginga com se fosse um pugilista profissional e golpeia. O soco acerta o nariz de Taveira que sente a alma sair de seu corpo. O gancho quase nocauteia o policial. A visão de Taveira volta ficar turva. “Eu não posso apagar agora, não posso”
         Para sobreviver é preciso apelar. João Carlos Taveira não queria, mas foi obrigado. Entre um golpe e outro que recebe ele mira nas partes baixas do gigante Valdecir e chuta. O homem abre a boca e não emite som. Aos poucos, como uma árvore, homem vai desmoronando. Taveira o chuta no rosto. Valdecir apaga de vez. João Carlos se joga no sofá ofegante e gemendo ao mesmo tempo. Com muita dificuldade ele saca seu celular que teve a tela quebrada.
             - Departamento de polícia, preciso de reforço.

O chefe do departamento se aproxima de Taveira com seu mal humor de sempre.
            - O que você fez foi burrice, você sabe disso, não sabe?
            - Sim! - geme sendo conduzindo por um médico até a ambulância.
          - Vir sozinho para uma busca como essa foi demais, esses caras são perigosos, são assassinos, eles tinham uma refinaria de cocaína secretamente.
            - Um muito obrigado serve. - se deita na maca.
            - Tudo bem, tudo bem, você fez um ótimo trabalho devo admitir.
Mais dois bandidos fora de circulação. Taveira é levado para o hospital. Enquanto vida tiver, Taveira continuará fazendo seu trabalho. Servir e proteger. FIM

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