segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Linha Policial - O crime em Guerra

 


LINHA POLICIAL

O crime em Guerra

 

Foi um final de semana incrível. Depois de muitas investidas e tentativas frustradas, finalmente Bruno conseguiu atingir seu objetivo. Agora ele tem uma namorada e não só isso; uma bela namorada em todos os sentidos. Claro que, para impressionar sua garota ele precisou tirar o escorpião do bolso e não pensar duas vezes antes de leva-la para jantar num dos mais requintados restaurantes de Luzia. Valeu a pena e pra falar a verdade, dinheiro nunca foi problema para ele.

- O que achou da comida?

- Nossa, maravilhosa. – respondeu ruborizada.

- Posso lhe fazer uma pergunta?

- Sim?

- Você sabe de quem eu sou sobrinho, não sabe? – engoliu seco.

- Claro que sei. – abaixou a cabeça olhando para às mãos.

- Era por isso que não aceitava sair comigo antes?

O silêncio da moça respondeu a pergunta.

- Eu não sou como o meu tio. Pode acreditar e não tenho pretensão alguma de ser.

- E se ele um dia lhe colocar na linha de sucessão e...

Bruno a segurou pelas mãos.

- Eu negarei. Por você. Tudo bem?

Meneou sorrindo.

O beijo foi longo, cheio de bons sentimentos e tirou de uma vez por todas tudo o que ainda restava de ressentimentos sobre Bruno. Ele a levou de carro até o portão de sua casa e lá, ainda dentro do veículo trocaram fluídos mais uma vez.

- Me liga assim que chegar em casa, tudo bem? – Laura tinha as bochechas vermelhas.

- Hum, pode deixar.

Um último selinho antes de descer e pronto, Laura estava sã e salva. Bruno pegou seu caminho de volta ainda sentindo na pele a energia deixada por sua garota e para fazer com que o clima perdure, ele ligou o rádio. 700 metros depois um sujeito tenta a duras penas fazer com que sua moto funcione.

- Boa noite, amigão. Precisa de ajuda?

- Acho que sim. Não é falta de combustível então... – falou coçando a cabeça.

- Eu entendo pouco de motocicletas, mas, vamos ver. – desceu do carro.

Bruno acocorou-se para olhar mais de perto quando teve seu crânio perfurado por um disparo de 45 com silenciador.

*

Damião Ramos entrou as pressas em sua sala esbarrando seus cento e cinquenta quilos em tudo que vinha pela frente. O motivo de tanta urgência tinha nome, Shirley, sua ex mulher.

- Oi, alô? – atendeu aos berros o celular.

- Damião. Precisamos conversar.

Pelo tom de voz de Shirley essa conversa não seria nada agradável.

- Alguma coisa com as meninas? – o coração do chefe de polícia batia na garganta.

- Sim! Maiara anda bebendo demais, precisa da nossa ajuda.

- Claro, claro. – trocou o celular de lado. – hoje ainda, tudo bem?

- Tudo bem, quanto mais rápido melhor.

Não houve cerimônias por parte de Shirley ao encerrar a ligação e isso deixou o “Montanha gigante” meio que sem chão. Ela e Damião estão separados a bastante tempo e mesmo assim ele ainda alimenta dentro de si uma falsa ilusão de que a qualquer hora Shirley lhe pedirá para reatar o casamento. Até então isso não aconteceu e Damião sabe mais do que ninguém que nutrir tal sentimento pode lhe causar sérios danos a longo prazo. O melhor a ser feito e deixar essa história de lado e tentar ajudar sua filha caçula da melhor forma possível. Nesse interregno Paulo Alves bateu na porta.

- Entre! – falou gesticulando.

- Lhe vi meio apreensivo. Algum problema?

Damião Ramos não estava afim de responder, tão pouco compartilhar com terceiros seus problemas pessoais.

- Não foi nada. – guardou o telefone. – diga você o que houve.

- Dinho McLaren declarou guerra ao grupo de Orlando Urso  matando o sobrinho do mesmo.

Ramos esfregou o rosto bolachudo, isso é péssimo.

- Aguardando ordens, senhor. – Alves pôs as mãos para trás.

Damião é sim um homem intimidador, imponente, mas no momento encontra-se fragilizado. Isso é visível em seu modo de caminhar até sua mesa. Alves achou melhor não insistir em perguntar sobre o que acontecera.

- Esse caso é seu, Paulo. Peço que fique apenas na observação. Urso e McLaren ainda vão longe nesse conflito e é nosso dever proteger os civis.

- Sim, senhor.

- Reúna toda equipe e os informe sobre o assunto. Estamos de prontidão.

Paulo girou nos calcanhares.

*

Luzia não é tão grande assim, mas de qualquer forma é uma baita cidade. Prédios comerciais e residenciais por toda parte. Possuí um bom número de shoppings, sem falar de galerias, supermercados de nome famosos e escolas técnicas. Como em toda cidade de médio porte, Luzia tem seus problemas e um deles, com certeza é a violência. Grupos criminosos sedentos por domínio de territórios ganham cada vez mais espaços nas páginas dos jornais. Atualmente a gangue de Orlando Urso vem conquistando e avançando não só nas periferias, como também os grandes centros na venda de drogas, roubo de cargas, assaltos a carros fortes e agências bancárias. Claro que isso chamaria atenção de rivais. Dinho McLaren também deseja usufruir desse negócio altamente rentável, mas para se tornar absoluto ele precisa tirar o maioral da jogada.

O escritório de McLaren – ou o que ele chama de escritório – fica num bairro de classe média. Uma casa foi alugada para ser o ponto de encontro e ali elaborar as ações do grupo. Ali também serve como um “parque de diversões” para o chefe. Dinho é ainda muito jovem, tem uma saúde de ferro e possui um apetite sexual quase que incontrolável. Aos trinta anos, Dinho ostenta um shape perfeito coberto por tatuagens de animais e esqueletos. Ele tem verdadeira fixação por caveiras. Expedito Passos não é flor que se cheire, nunca foi. Nunca hesitou antes de puxar o gatilho e executar alguém. Segundo ele mesmo “eu nasci para ser mau".

Em meio a inúmeros telefonemas e negociações com seus parceiros internacionais, Dinho recebeu uma boa notícia. Sua ordem havia sido executada.

- Pronto! Agora é só aguardar o idiota morder a isca. – falou ao celular.

- Espero que saiba o que está fazendo, McLaren. Orlando é ainda dono do território.

- Isso por enquanto, meu caro. O plano é matar pelo menos um por dia até chegarmos nele.

Houve silêncio do outro lado da linha.

- O que aconteceu, o gato comeu sua língua, doutor? – vociferou.

- Matar Orlando Urso? É isso mesmo que você quer? E a polícia?

Dinho levantou-se e se serviu de um uísque.

- Por um acaso o senhor está com medo de Damião Ramos e sua turma? – tomou um gole.

- Não, mas lembre-se, Luzia é uma boa cidade. Temos prefeituras, um governador, deputados, vereadores e um xerife, então...

McLaren já estava ficando de saco cheio daquela conversa.

- Certo, doutor. Deixe a polícia fazer o trabalho dela. Em breve eles comerão na minha mão. Até mais tarde.

Damião Ramos e sua turma é sem dúvida alguma um bom motivo para qualquer criminoso se preocupar. Dinho sabe muito bem disso. Ele terminou de tomar sua bebida e tratou de cuidar dessa parte também, tenho que manter meus olhos nos homens da lei.

*

Em cima da escrivaninha, junto com livros, porta-canetas, cadernos e bibelôs está também a garrafa de Martini sorrindo para Maiara Ramos, filha do chefe de polícia de Luzia. Uma mulher negra linda, de pele perfeita e rosto rechonchudo igual ao do pai. Dizem as más línguas que ela terá o mesmo problema de peso que ele, porém ela luta com unhas e dentes contra isso. A garrafa está pela metade e ela ainda tem o dia inteiro para mata-la. Para sair e comprar outra. Sem hesitação alguma Maiara encheu o copo até a borda e o tomou. Encheu novamente e o tomou sem cerimônias, sem fazer cara feia. Cambaleante a jovem voltou para cama refletindo no que acabara de fazer. O que estou fazendo é perda de tempo. Levantou-se correndo. Pegou a garrafa dispensando o copo. Olhou brevemente para o rótulo e sorriu, talvez isso ajude amenizar a dor. Virou de uma vez só sem perder a respiração.

 

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário