LINHA POLICIAL
O crime em Guerra
Foi um
final de semana incrível. Depois de muitas investidas e tentativas frustradas,
finalmente Bruno conseguiu atingir seu objetivo. Agora ele tem uma namorada e
não só isso; uma bela namorada em todos os sentidos. Claro que, para impressionar
sua garota ele precisou tirar o escorpião do bolso e não pensar duas vezes
antes de leva-la para jantar num dos mais requintados restaurantes de Luzia.
Valeu a pena e pra falar a verdade, dinheiro nunca foi problema para ele.
- O que
achou da comida?
- Nossa,
maravilhosa. – respondeu ruborizada.
- Posso lhe
fazer uma pergunta?
- Sim?
- Você sabe
de quem eu sou sobrinho, não sabe? – engoliu seco.
- Claro que
sei. – abaixou a cabeça olhando para às mãos.
- Era por
isso que não aceitava sair comigo antes?
O silêncio
da moça respondeu a pergunta.
- Eu não
sou como o meu tio. Pode acreditar e não tenho pretensão alguma de ser.
- E se ele
um dia lhe colocar na linha de sucessão e...
Bruno a
segurou pelas mãos.
- Eu
negarei. Por você. Tudo bem?
Meneou
sorrindo.
O beijo foi
longo, cheio de bons sentimentos e tirou de uma vez por todas tudo o que ainda
restava de ressentimentos sobre Bruno. Ele a levou de carro até o portão de sua
casa e lá, ainda dentro do veículo trocaram fluídos mais uma vez.
- Me liga
assim que chegar em casa, tudo bem? – Laura tinha as bochechas vermelhas.
- Hum, pode
deixar.
Um último
selinho antes de descer e pronto, Laura estava sã e salva. Bruno pegou seu
caminho de volta ainda sentindo na pele a energia deixada por sua garota e para
fazer com que o clima perdure, ele ligou o rádio. 700 metros depois um sujeito tenta
a duras penas fazer com que sua moto funcione.
- Boa
noite, amigão. Precisa de ajuda?
- Acho que
sim. Não é falta de combustível então... – falou coçando a cabeça.
- Eu
entendo pouco de motocicletas, mas, vamos ver. – desceu do carro.
Bruno acocorou-se
para olhar mais de perto quando teve seu crânio perfurado por um disparo de 45
com silenciador.
*
Damião
Ramos entrou as pressas em sua sala esbarrando seus cento e cinquenta quilos em
tudo que vinha pela frente. O motivo de tanta urgência tinha nome, Shirley, sua
ex mulher.
- Oi, alô? –
atendeu aos berros o celular.
- Damião.
Precisamos conversar.
Pelo tom de
voz de Shirley essa conversa não seria nada agradável.
- Alguma
coisa com as meninas? – o coração do chefe de polícia batia na garganta.
- Sim!
Maiara anda bebendo demais, precisa da nossa ajuda.
- Claro,
claro. – trocou o celular de lado. – hoje ainda, tudo bem?
- Tudo
bem, quanto mais rápido melhor.
Não houve
cerimônias por parte de Shirley ao encerrar a ligação e isso deixou o “Montanha
gigante” meio que sem chão. Ela e Damião estão separados a bastante tempo e
mesmo assim ele ainda alimenta dentro de si uma falsa ilusão de que a qualquer
hora Shirley lhe pedirá para reatar o casamento. Até então isso não aconteceu e
Damião sabe mais do que ninguém que nutrir tal sentimento pode lhe causar
sérios danos a longo prazo. O melhor a ser feito e deixar essa história de lado
e tentar ajudar sua filha caçula da melhor forma possível. Nesse interregno
Paulo Alves bateu na porta.
- Entre! –
falou gesticulando.
- Lhe vi
meio apreensivo. Algum problema?
Damião
Ramos não estava afim de responder, tão pouco compartilhar com terceiros seus
problemas pessoais.
- Não foi
nada. – guardou o telefone. – diga você o que houve.
- Dinho
McLaren declarou guerra ao grupo de Orlando Urso matando o sobrinho do mesmo.
Ramos
esfregou o rosto bolachudo, isso é péssimo.
- Aguardando
ordens, senhor. – Alves pôs as mãos para trás.
Damião é
sim um homem intimidador, imponente, mas no momento encontra-se fragilizado.
Isso é visível em seu modo de caminhar até sua mesa. Alves achou melhor não
insistir em perguntar sobre o que acontecera.
- Esse caso
é seu, Paulo. Peço que fique apenas na observação. Urso e McLaren ainda vão
longe nesse conflito e é nosso dever proteger os civis.
- Sim,
senhor.
- Reúna
toda equipe e os informe sobre o assunto. Estamos de prontidão.
Paulo girou
nos calcanhares.
*
Luzia não é
tão grande assim, mas de qualquer forma é uma baita cidade. Prédios comerciais
e residenciais por toda parte. Possuí um bom número de shoppings, sem falar de galerias,
supermercados de nome famosos e escolas técnicas. Como em toda cidade de médio
porte, Luzia tem seus problemas e um deles, com certeza é a violência. Grupos
criminosos sedentos por domínio de territórios ganham cada vez mais espaços nas
páginas dos jornais. Atualmente a gangue de Orlando Urso vem conquistando e
avançando não só nas periferias, como também os grandes centros na venda de
drogas, roubo de cargas, assaltos a carros fortes e agências bancárias. Claro
que isso chamaria atenção de rivais. Dinho McLaren também deseja usufruir desse
negócio altamente rentável, mas para se tornar absoluto ele precisa tirar o
maioral da jogada.
O
escritório de McLaren – ou o que ele chama de escritório – fica num bairro de
classe média. Uma casa foi alugada para ser o ponto de encontro e ali elaborar
as ações do grupo. Ali também serve como um “parque de diversões” para o chefe.
Dinho é ainda muito jovem, tem uma saúde de ferro e possui um apetite sexual quase
que incontrolável. Aos trinta anos, Dinho ostenta um shape perfeito coberto por
tatuagens de animais e esqueletos. Ele tem verdadeira fixação por caveiras. Expedito
Passos não é flor que se cheire, nunca foi. Nunca hesitou antes de puxar o
gatilho e executar alguém. Segundo ele mesmo “eu nasci para ser mau".
Em meio a
inúmeros telefonemas e negociações com seus parceiros internacionais, Dinho
recebeu uma boa notícia. Sua ordem havia sido executada.
- Pronto!
Agora é só aguardar o idiota morder a isca. – falou ao celular.
- Espero
que saiba o que está fazendo, McLaren. Orlando é ainda dono do território.
- Isso por
enquanto, meu caro. O plano é matar pelo menos um por dia até chegarmos nele.
Houve
silêncio do outro lado da linha.
- O que aconteceu,
o gato comeu sua língua, doutor? – vociferou.
- Matar
Orlando Urso? É isso mesmo que você quer? E a polícia?
Dinho
levantou-se e se serviu de um uísque.
- Por um
acaso o senhor está com medo de Damião Ramos e sua turma? – tomou um gole.
- Não,
mas lembre-se, Luzia é uma boa cidade. Temos prefeituras, um governador,
deputados, vereadores e um xerife, então...
McLaren já
estava ficando de saco cheio daquela conversa.
- Certo,
doutor. Deixe a polícia fazer o trabalho dela. Em breve eles comerão na minha
mão. Até mais tarde.
Damião
Ramos e sua turma é sem dúvida alguma um bom motivo para qualquer criminoso se
preocupar. Dinho sabe muito bem disso. Ele terminou de tomar sua bebida e
tratou de cuidar dessa parte também, tenho que manter meus olhos nos homens
da lei.
*
Em cima da
escrivaninha, junto com livros, porta-canetas, cadernos e bibelôs está também a
garrafa de Martini sorrindo para Maiara Ramos, filha do chefe de polícia de
Luzia. Uma mulher negra linda, de pele perfeita e rosto rechonchudo igual ao do
pai. Dizem as más línguas que ela terá o mesmo problema de peso que ele, porém
ela luta com unhas e dentes contra isso. A garrafa está pela metade e ela ainda
tem o dia inteiro para mata-la. Para sair e comprar outra. Sem hesitação alguma
Maiara encheu o copo até a borda e o tomou. Encheu novamente e o tomou sem
cerimônias, sem fazer cara feia. Cambaleante a jovem voltou para cama refletindo
no que acabara de fazer. O que estou fazendo é perda de tempo. Levantou-se
correndo. Pegou a garrafa dispensando o copo. Olhou brevemente para o rótulo e
sorriu, talvez isso ajude amenizar a dor. Virou de uma vez só sem perder
a respiração.
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