terça-feira, 25 de outubro de 2022

Linha Policial crime em Guerra | Capítulo 4

 

Maiara passou quase que o dia inteiro entre trocas de roupas e poses provocantes. Fotos e postagens em sua página no Instagram. Em uma delas a filha do delegado se encontra em trajes de praia dentro do box no banheiro. Essa sim chamou a atenção não só de quem ela queria, como de outros tarados virtuais. Após alguns minutos de postagem, Rogério deixou um comentário um tanto quanto sem noção. “será que não se enxerga? Seu lugar é no mar". O primeiro sentimento que lhe abateu foi o de correr para o quarto e chorar até secarem às lágrimas, porém o segundo a fez rir. Lógico que o idiota ficou mexido ao ver a imagem dela de biquini. Isso só levou a confirmação de que ele anda fuçando em seu perfil. Karina entrou no quarto com uma das mãos na boca e a outra segurando o telefone.

- Que fotos são essas, garota?

- E ai, gostou? – fez uma dancinha.

- Eu gostei, mas, será que o pai e a mãe vão gostar?

- Vamos lá. O papai no momento se encontra ocupado correndo atrás de bandidos e a mamãe só tem olhos para ele, então...

Karina tinha que admitir, sua irmã mais nova estava coberta de razão.

- Verdade! – torceu os lábios. – mas e ai, o que achou do comentário do boçal do Rogério?

- Caguei e andei. – deu às costas. – vamos, me ajude a escolher outra roupa.

*

Damião Ramos aguardou que seu último homem entrasse na sala de reunião para dar início a preleção. A apreensão dos quinze oficiais ali dentro era algo mais que detectável, era quase palpável. Toda essa tensão tinha um motivo, aliás, um baita motivo. O roubo de um carro-forte pelo grupo de Orlando Urso. É! Realmente o tempo iria fechar dentro daquele metro quadrado.

- Vamos fazer silêncio, senhores.

Paulo Alves se ajeitou na cadeira.

- Eu tive uma longa conversa com o governador pelo telefone e ele me deu carta branca para agir e acabar de vez com essa guerra. Então já quero deixar bem claro uma coisa: eu irei liderar a operação. Tanto Orlando Urso como Dinho McLaren são meus e cabe a cada um dos senhores trazê-los a mim. Copiaram?

Sim, senhor, disseram todos ao mesmo tempo.

- Ótimo! Decidi batizar essa operação de “Rolo compressor” será desse jeito que iremos combater o crime organizado. Como um rolo compressor. Quero que anotem o que irei falar a partir de agora.

*

Toda a imprensa de Luzia, tanto a escrita como os telejornais não deixam de falar hora alguma sobre o roubo do carro-forte e da operação Rolo compressor de Damião Ramos. Claro que, ao saber que a polícia enfim combaterá os criminosos na mesma proporção com que eles atacam a sociedade, os habitantes de Luzia respiram um pouco mais aliviados. E não foi preciso agendar um prazo para o início da operação. Assim que a reunião com os oficiais terminou, Damião Ramos fez questão da parceria com Paulo Alves e já ganhou as ruas de Luzia em busca dos figurões do crime. Dentro da viatura, com a adrenalina circulando a mil nas veias, o chefe de polícia orienta o grupo quanto ao destino da busca.

- Atenção senhores, o nosso destino é a caverna do urso, então preparem para uma possível resistência. – disse via rádio.

- Copiado zero um.

A caverna do urso. Paulo Alves soube na mesma hora do que seu superior se referia. Damião vai invadir um dos bairros dominados por Orlando Urso. Um estado paralelo onde só é possível agir com auxílio do exército. Alves já esteve naquele lugar e sabe muito bem o que os aguarda lá.

- Chefe! O senhor tem certeza?

- Essa cidade é minha, agente Alves. Hoje eu acordei com disposição e se eu falei que vou lá e vou quebrar o cara, tenha certeza disso. Eu vou quebrar.

Pressão do estado. Pressão da sociedade. Chefe motivado. No que poderia dar essa mistura? Duas coisas: daria muito certo, ou daria muito errado. Claro que Damião Ramos tinha um plano, isso sem sombra de dúvidas, pensou Paulo ainda processando o que seu delegado havia acabado de declarar. Quebrar o cara. Se fosse tão simples entrar lá e eliminar o maior chefão do crime não era preciso a mobilização de tantos homens assim, qualquer guarda de trânsito já o teria feito. Quebrar o cara deve ter outro significado.

*

Mãos para trás. Passos precisos. Olhos tensos, fitos nele, no patrão. Raras foram as visitas de Urso aquele lugar. Segundo ele mesmo, a permanência prolongada ali é insalubre. Poeira, cheiro forte de desinfetante e pouca ventilação. Somente um idiota seria capaz de ficar ali por mais de uma hora. Foi por essas e outras terríveis condições que o lugar teve aprovação para ser o esconderijo. Onde todo o material roubado deveria ser armazenado e é claro que não seria diferente com a carga roubada do carro-forte.

- Está tudo ai, chefe. – afirmou um dos soldados.

- Dois milhões? – seguia olhando para a carga com as mãos para trás.

Fabiana também estava ali, porém se mantinha quieta.

- Dois milhões, chefe. – reafirmou Guará.

- Tudo bem. Compramos outra briga. A polícia virá com força total. Já ouviram falar da “Rolo compressor” de Damião Ramos e companhia?

Guará disse que não com a cabeça.

- Pois é! Então tratem de ficar mais espertos a partir de agora. Saindo daqui irei entrar em contato com meus fornecedores e pegar novas armas.

- Hum! Então os dias de Dinho McLaren estão contados?

Fabiana juntou-se ao marido segurando em seu braço.

- Exatamente! Tá na hora de alguém dar uma lição nesse garoto. Não é amor?

Ela apenas assentiu com um gesto de cabeça.

*

Dois milhões. Dinheiro não trás felicidade, porém manda buscá-la. O que dois milhões é capaz de comprar? De repente, para alguém mais humilde, toda essa grana mudaria considerável o curso de sua existência. Para alguém com boas intenções, inúmeras vidas seriam beneficiadas. Mas agora, para uma pessoa como Expedito Passos, chefe de uma das mais perigosas gangues que Luzia já produziu, dois milhões tem o mesmo efeito que uma bomba atômica. Dinho McLaren munido de sua imaturidade e com dinheiro no bolso. Uma combinação nada favorável. Ele quer a qualquer custo essa soma em dinheiro e para que isso aconteça não é preciso trabalhar muito.

- Fique a vontade. Assim que tiver a oportunidade não pense duas vezes. Traga essa grana pra mim.

- Me diga uma coisa, Dinho. O nosso trato ainda está de pé?

- Quinhentos mil reais. – colocou os pés em cima da mesa. – vai mesmo sumir do mapa?

- Não posso dar mole. Luzia é pequena demais. Urso me encontraria em dois tempos.

- Certo! Assim que você me trouxer a carga eu lhe passo sua parte.

Dois milhões de reais. Grana pra cacete. E o que é melhor; sem esforço algum praticamente. Dinho encerrou a ligação com um sorriso de orelha a orelha já fazendo planos e o principal deles, e não poderia ser diferente, a destruição de seu rival.

*

A Rolo compressor invadiu o bairro proibido e como não poderia ser diferente a recepção foi recheada com rajadas de disparos vindos de todos os cantos. Damião e seu grupo se dividiram. Paulo Alves ficou com a parte alta e ele com a parte baixa. Imediatamente os prédios, casas, bares, tudo foi tomado, os agentes não estavam ali para conversar e nem tão pouco para negociar. A ordem foi dada e foi uma só: pegar Orlando Urso.

- Vamos! Todos com as mãos na cabeça. – gritou Damião no interior de um bar. – revistam todos.

O dono do estabelecimento tentou sair em defesa de seus clientes.

- Calma, meu chefe, aqui não tem bandido não.

- Eu não pedi sua opinião. Sai de trás do balcão. – apontou sua arma.

Os suspeitos foram alinhados de frente para parede com as mãos atrás das cabeças. Damião pôs a pistola de volta ao coldre.

- Qual dos senhores já trabalhou ou trabalha para Orlando Urso?

Silêncio.

- Vou perguntar outra vez. Qual dos senhores já trabalhou ou trabalha para Orlando Urso?

Damião Ramos estava pronto para mudar de tática quando Paulo Alves o chamou via rádio com ótimas notícias.

- Pegamos um suspeito em um dos prédios.

- Tudo bem. Só me fala sua localização.

O endereço foi passado. Ramos era um barril de pólvora de pavio curto.

- Atenção sargento. Assuma a ocorrência. Ninguém sai daqui enquanto não abrirem o bico.

 

Certo tempo depois o chefe de polícia de Luzia estava diante de um dos atiradores de Urso algemado com às mãos para trás. Paulo Alves tentava arrancar dele maiores informações sobre o líder, mas sabe como são os meliantes né.

- Nada a declarar. – falou com a cabeça baixa.

- Jogador. – recomeçou Alves. – sua casa caiu. Seu chefe não está aqui para te livrar, então...

- Só falo na presença do meu advogado.

Damião descruzou os braços. Sacou sua arma do coldre. Segurou firme o vagabundo pelos cabelos e enterrou a quarenta cinco em sua boca.

- Vou te mostrar seu advogado, já já.

*

Ah, a exuberância da juventude. Segundo alguns pensadores: “a juventude é desperdiçada no jovem”. Maiara sempre sofreu por ser negra. Por ser filha do delegado. Por ser gordinha e também por escolher mal seus pretendentes. Diferente de sua irmã que nunca teve empecilho algum dessa natureza e olha que ambas são bem parecidas. Maiara jurou por Deus e o mundo que jamais daria outra chance ao idiota do Rogério. Prometeu a irmã e aos pais que nunca mais olharia na cara desse sujeito e no entanto...

- Pensei em você a noite toda. – falou ao celular. – depois que vi sua foto no Instagram e...

- Antes ou depois de comentar que sou uma baleia?

- Peço desculpas! Sou mesmo um escroto, não deveria ter escrito aquilo.

- Foi um escroto mesmo. – declarou sorrindo.

- Vou entender se não quiser mais falar comigo. Melhor eu desligar...

O sorriso foi desfeito. A estratégia de ignora-lo funcionou, mas não era esse o resultado esperado por ela.

- Ainda acha que o meu lugar é no mar?

Rogério ficou em silêncio.

- Quem cala consente. – cruzou as pernas.

- Não! Lógico que não. Seu lugar é comigo.

*

Não há como dizer que o amor é um sentimento. O relacionamento entre Fabiana e Orlando deixa claro que, o amor é sim atitude. Ela poderia muito bem dizer não para ele assim que o mesmo revelou quem ele era. Fabiana nasceu numa família religiosa, tudo deixava claro que ela seguiria o caminho eclesiástico assim como aconteceu com suas tias e irmã. Seu pai era um sacerdote rigoroso e zeloso pelos assuntos do divino. Ao saber que sua filha havia se envolvido com um criminoso, ele mesmo fez questão de excomungá-la.

Fabiana e Orlando Urso se amam de verdade e por isso eles cada vez que se trancam no quarto e fazem amor, o mundo parece girar mais devagar – pelo menos para eles. Toda essa empolgação tem motivo. O casal comemora o sucesso do roubo, mas isso está perto de acabar. Um dos soldados esmurrou a porta do quarto do chefe  bastante apreensivo.

- Um minuto. – deixou a cama segurando o lençol. – só espero que seja importante. – abriu a porta. – o que está havendo?

- Senhor, deu merda, o senhor precisa vir agora. – o homem transpirava em demasia.

- Diz logo o que aconteceu. – vociferou.

- Damião Ramos entrou na comunidade e levou alguns dos nossos...

O murro dado na porta foi tão forte que Fabiana deu um salto sentada na cama.

- Eu deixei bem claro que, só deveriam me incomodar se fosse algo importante. Damião Ramos uma ova...

O homem engoliu seco várias vezes.

- Não é só isso, senhor. Toda grana foi roubada. Os dois milhões. Dinho McLaren levou o dinheiro.

 

 

 


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