segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Linha Policial - O crime em Guerra - Capítulo 2


 

Linha Policial

O crime em Guerra

Capítulo 2

 

Luzia se encontra mais uma vez diante de uma crise e não só isso. Há um conflito em andamento e no meio dessa onda de violência sem controle está o população que clama por paz. É bem verdade que a polícia vem as duras penas fazendo o trabalho dela como: patrulhamento ostensivo vinte quatro horas. Os pontos mais críticos da cidade foram cobertos, sem falar das buscas chefiadas por Paulo Alves que no momento está invadindo um território hostil. Foi preciso solicitar o auxílio da PM com carros blindados.

- A partir desse ponto todo cuidado é pouco. – alertou um PM.

- Qual a recomendação? – Paulo olhou para ele.

- Voltarmos!

O local é um bairro onde o número de prédios supera o de casas e segundo o sargento da polícia militar, ali quem manda é Orlando Urso.

- Ouvi dizer que há atiradores de Orlando na maioria dos prédios. – o sargento informou.

- Vou solicitar apoio aéreo.

- Chame o exército também, investigador.

Paulo Alves não queria acreditar, mas o militar estava com a razão. Deitado, com os olhos fixados na mira do rifle, um dos homens de Urso observa as viaturas seguindo bairro adentro. Ele tem ordens para atirar, mas preferiu aguardar o melhor momento. Via rádio ele comunica-se com seu superior.

- Estou com uma bela visão aqui. Vou começar a festa.

Careca, moreno escuro, barba bem feita e camisa de mangas compridas azul escuro. Orlando Urso fuma desesperadamente seu cigarro visivelmente irritado. Lógico que ele gostaria de ver o circo pegar fogo, mas ele tem outras prioridades. Queimar gordura com a polícia seria perda de tempo e só ajudaria a piorar ainda mais as coisas.

- Deixe passar. O meu negócio é com o McLaren.

- O senhor quem sabe.

Orlando levantou-se do sofá vermelho sob os olhares temerosos de um de seus guardas costas.

- McLaren pensa que a morte do meu sobrinho vai ficar por isso mesmo. – coçou a barba. – ainda hoje ele terá a resposta.

*

De um lado da mesa, mesa essa onde Damião costumava fazer suas intermináveis refeições, está Maiara, Karina e Shirley e do outro, ele, o ex chefe da família Ramos, tentando encontrar palavras. As três tem muito a dizer, porém aguardam educadamente, segundo recomendou Shirley.

- Filha, estou aqui para o que der e vier, por isso não guarde segredos. Certo?

Maiara deu uma rápida olhada para o lado em direção a sua mãe.

- O que aconteceu? – Damião entrelaçou os dedos.

Shirley finalmente autorizou a fala de sua filha num gesto sutil de cabeça. Depois de engolir seco por duas vezes a menina abriu a boca.

- Eu já não vinha bem de uns tempos pra cá. Na verdade, desde a sua saída de casa.

Damião sentiu o estômago gelar.

- Então resolvi distrair a mente com garotos e...

Shirley pediu a palavra.

- Vá com calma, filha.

- Seguindo... lembra do Marcos? O senhor não ia muito com a cara dele...

- Nem eu! – retrucou Karina.

- Posso continuar?

Damião olhou para a filha mais velha com ar de reprovação.

- Então! Tivemos uma relação intensa e...

- Você quase engravidou. – Shirley olhou para o teto.

- E depois do Marcos eu me lembro que, nada tinha mais sentido pra mim. Foi quando conheci o Rogério. Me apaixonei de verdade por ele e... – voz embargada.

Ramos apertou os olhos.

- Ele fez alguma coisa? Tipo... – Shirley também estava emocionada.

- Ele disse que, eu era uma gatinha, pena que sou gorda. Isso me destruiu. – desabou. – por isso estou bebendo. No álcool eu encontro o caminho para esquecer essa realidade.

Damião Ramos tamborilou os dedos na mesa.

- Tudo bem. E você acha que o álcool vai te levar pra onde se continuar bebendo dessa forma? Saiba de uma coisa, minha filha, esse tal de Rogério NÃO representa nada em sua vida, não é ele quem dita as regras. A vida é sua, só entra nela quem você quer. Tome uma posição.

Maiara limpou às lagrimas.

- Se estereótipos colocasse comida na mesa, se regesse o mundo ou melhor, se resolvesse os problemas do mundo, tudo bem, mas não resolve nada. O que vale é você. Se conheça. Se aceite e vá em frente.

Karina abraçou a irmã.

- Obrigada, pai.

Karina levou a irmã para o quarto e Shirley acompanhou o ex marido até a porta. Ela ainda se encontrava anestesiada e porque não dizer orgulhosa pelas palavras dele dirigidas a sua filha.

- Obrigada por tudo. Obrigada por vir.

- Não tem que me agradecer. Estamos exercendo nosso papel. Me ligue sempre que precisar. – colocou o paletó.

Shirley abriu a porta, parecia querer dizer algo.

- E como vão às coisas no departamento?

Damião olhou para fora.

- Nada bem. Estamos no meio de uma guerra entre gangues rivais, você já deve ter visto nos jornais. Está complicado o negócio.

- Mas você vai conseguir. Sempre conseguiu. Damião Ramos, o nosso xerife, o xerife de Luzia. – colocou a mão em seu ombro.

Eles se olharam.

- Eu já vou indo.

- Tchau!

*

O bar está relativamente lotado. Em plena luz do dia, homens acotovelam-se segurando suas tulipas de chope ou de cerveja, a fim de assistirem a partida de sinuca que acontece na parte da frente do boteco. Cinco deles trazem na cintura pistolas ou até mais de uma.

- Quem ganhar essa vou patrocinar a próxima rodada. – berrou erguendo o copo da bebida gelada.

Ainda sob os brados de alegria uma SUV parou abruptamente na frente do estabelecimento e do veículo preto desceram seis mascarados portando fuzis. Eles invadiram o lugar expulsando os civis. Antes que os alvos pudessem sacar suas armas eles foram executados sem chance de defesa. Houve corre corre, gritaria assim que o grupo deixou o lugar.

Em fuga, a SUV pegou a via principal da cidade. O sujeito que ocupa o banco do carona sacou o celular sentindo o calor que emana de seu armamento.

- Deu tudo certo? – perguntou Orlando.

- Sim! O senhor ainda vai precisar dos nossos serviços?

- Por enquanto é só. – desligou.

*

Paulo e Janaína estão enrolados num edredom trocando beijos longos e molhados. No celular dele toca uma linda canção composta pelo seu artista internacional preferido. “The One” de Elton Jonh é sem dúvida alguma uma de suas melhores músicas já composta. Janaína sente a mão grande do homem de sua vida invadindo sua parte íntima lhe arrancando suspiros. Não há resistência, apenas liberdade e entrega. O policial possui sua namorada calmamente ouvindo bem perto do seu ouvido os seus gemidos. De repente “The One” é interrompida dando lugar o som estridente da chamada. Paulo intensificou seus movimentos tentando acelerar o processo, mas não adiantou. Ele saiu de cima de Janaína bastante ofegante.

- Alves falando.

- Vá para o endereço que irei falar, agora. – Damião falava tão alto que, mesmo não querendo Janaína conseguia ouvir.

- Sim, mais o que aconteceu?

- Orlando Urso ordenou um massacre na zona Leste. Foram cinco homens de McLaren fuzilados a luz do dia dentro de um bar.

Janaína Lopes arregalou os olhos para Paulo Alves que se vestia.

- Jesus! Seguindo para o local.

- Certo! Nos vemos lá.

O zíper da calça foi fechado sob lamentos do policial.

- Vamos continuar logo mais a noite?

- Vou pensar no seu caso, gatão.

*

Um bom líder, antes de tudo é um ser humano. Não há como separar uma coisa da outra. Por mais que você tenha poder e homens a seu dispor lhe protegendo vinte quatro horas por dia e possua um armamento bélico gigante, ainda assim, quando as coisas se tornam difíceis o ser mortal que habita em você gritará mais forte. Dinho McLaren ao tomar conhecimento do massacre ordenado por seu rival, temeu e temeu muito. E pela primeira vez em muito tempo ele sentiu que essa guerra estaria perdida.

- E a polícia? – perguntou a um de seus homens.

- Com certeza já devem estar no local. – respondeu meio que receoso.

- Tudo bem. O certo agora é não perder o controle. – se levantou. – me dêem um tempo. Preciso pensar, isso já está indo longe demais.

- O que faremos enquanto isso, senhor? Orlando Urso já provou que está disposto a jogar pesado...

- Urso é problema meu. Eu sei exatamente o que fazer com alguém que se coloca em meu caminho. Quanto a vocês, sigam trabalhando. E por favor, mantenham o foco o tempo inteiro.

- Entendido, senhor.

*

Damião Ramos olhava os corpos e dentro de si havia uma batalha por dois sentimentos. Um deles é aquela velha máxima: enquanto a guerra for entre eles e não houver nenhum inocente envolvido tudo bem. O outro é: até onde isso pode afetar toda uma cidade? Só quem perde com essa briga é a população. Ele deixou o interior do bar fazendo com que sua cabeça funcione na potência máxima. Alves desceu do carro driblando equipes de reportagens e policiais militares que fazem a segurança do local.

- Sem sobreviventes mesmo, não é? – Paulo media as palavras.

- Exatamente! – colocou as mãos na cintura. – não podemos ser somente recolhedores de corpos. Pedirei ao governador mais apoio. Vou querer homens nosso em cada esquina, não importa o quanto isso custará. O nosso dever a partir de hoje é a prisão de Orlando Urso e McLaren.

*

O dia não foi tão produtivo do jeito que fora planejado, mas foi o suficiente para deixar Orlando inspirado para um drink com sua mulher Fabiana com a noite caindo em Luzia. Ele a serviu cantarolando a música que se tornou a trilha sonora para o seu pedido de casamento há vinte anos.

- Hum! Pelo visto os negócios vão indo de vento em polpa.

- Digamos que sim. – lhe entregou o copo.

- E o merda do McLaren? – torceu o rosto.

Orlando ocupou a outra cadeira.

- Lhe dei uma resposta a altura. – deu um curto gole. – agora ele sabe quem manda nessa cidade. Não há como parar o ataque voraz do Urso. – gargalhou.

- Não estamos indo longe demais com essa guerra? O que pode acontecer daqui pra frente?

- Não fui eu quem começou isso. Meu sobrinho Bruno tinha tudo para suceder os negócios e McLaren tirou isso de mim. Não vou parar enquanto não vê-lo morto.

- E se você for morto, o que será dos negócios?

Orlando colocou o copo no chão e a chamou. Ela sentou-se em seu colo e logo foi sendo acariciada nos cabelos.

- Você será a rainha de Luzia. Absoluta. A senhora Urso. Certo? Agora chega desse baixo astral e vamos relembrar os velhos tempos.

*

Shirley terminou o banho e deixou o banheiro envolvida na toalha bastante pensativa. Desde quando se separou de Damião ela só teve um relacionamento muito breve com um tal de Jorge, um sujeito de cinquenta anos que vivia mais ocupado e preocupado com seu comércio do que com qualquer outra  coisa. Jorge era bonitão, mas tinha sérios problemas com relação a sexo. Ele e Shirley ficaram juntos dois meses e só conseguiram transar somente duas vezes e mesmo assim...

Shirley é ainda muito atraente e gosta bastante de sexo. Prova disso foi que, mesmo Damião sendo bastante gordo e grande, isso nunca foi empecilho para boas e longas noites de amor. Ramos era e ela acredita que ainda possa ser um baita amante na cama. O casamento acabou, porém Shirley ainda trás com ela algum sentimento pelo seu ex e isso se intensificou com o jeito que ele solucionou a crise vivida por Maiara. Um pai de verdade. Um homem de verdade. Inspirada por tudo isso ela pegou o celular e ligou.

- Oi? Shirley, aconteceu alguma coisa?

- Não, não. Está tudo bem. É... você já terminou o plantão? - sentou-se na cama.

- O plantão acabou sim, mas eu ainda me encontro no departamento.

Ela engoliu seco antes de falar.

- Quer vir aqui?

Damião ficou em silêncio.

- Oi! Você ainda está na linha?

- Sim, estou. Chego ai em dez minutos.

 

 

 


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