sábado, 21 de maio de 2016

A Promessa


A casa está lotada. Na sala as pessoas lamentam e comentam a situação quase que aos sussurros. No quarto, deitado na cama, o velho Benjamim jaz com uma respiração fraca e irregular. O cômodo fede a urina. Alias, toda casa fede. A cozinha mais parece um galinheiro e o banheiro... nem vale a pena descrevê-lo. Benjamim está morrendo mais faz questão de ter uma ultima conversa com seu filho mais velho Edson.

***

     Um Sandero azul metálico encosta quase atropelando as crianças na calçada e do veículo sai um homem de terno e gravata. Olha ao redor e entra na velha casa caindo aos pedaços. As pessoas lá dentro o olham com desprezo e ele pior ainda para elas. Doutor Edson Magalhães, imponente como sempre. O odor o deixa sem ar e ele pega seu lenço para tapar suas vias nasais. Ao entrar no quarto e ver seu moribundo pai doente e esquelético, Edson se sente mal, sua cabeça roda, mas ele se controla. Caminha para junto da cama e afasta as pessoas que seguram nas mãos secas do velho.
    - Diga meu pai. – Benjamim mal consegue ver o filho, mas reconhece sua voz.
    - Edinho! – voz rouca. – chegue mais perto meu filho.
    - Nada de Edinho pai e daqui está bom. – coloca o lenço tapando o nariz devido o hálito azedado que o velho tem.
    - Filho, não tenha nojo de seu pai.
    - Pai, é impossível não ter, essa casa mais parece um esgoto, essas pessoas são todas falsas, hipócritas, estão é com pena do senhor.
    - E você? Não está? – um silêncio se faz.
    - Não! – Edson foi bastante incisivo.
    - Seu desgraçado, eu fiz tudo por você e seus irmãos e agora é isso que recebo. Seu porco desgraçado, enfia todo seu dinheiro você sabe aonde. – Benjamim tem uma crise de tosse e começa a perder a consciência. A mulher que segurava sua mão chora e Edson ajeita o paletó. Quando todos acham que Benjamim já faz parte do passado ele abre os olhos azuis devido á catarata e fixa o filho em pé e olhando para ele diz.
    - Voltarei! – depois disso morre finalmente. Edson engole seco e sai do quarto. Dentro do carro ele resmunga, velho maluco.
***
    A chuva cai intensa. Olhando pela janela Edson contempla a cidade iluminada. De repente dois braços femininos o abraça e logo o provoca segurando em suas partes íntimas.
    - Quer começar de novo gostosão? – pergunta sua amante.
    - Pô, você é fogosa mesmo hein. – a beija nos seios.

***

    No cemitério um vira lata late incessantemente para uma cova aberta. De repente ele para de latir e começa a rosnar. Algo o deixa assustado e o cachorro se afasta. Na lápide o nome grafado denuncia, Benjamim Magalhães *20-04-1925 // +13-10-2013.

Fim

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